Eu sou aquela menina!

Eu fui uma menina carente de amor,meu sonho era uma boneca de pano que nunca tive e nunca pedi à minha mãe.Muitos sonhos pequenos se perderam no tempo,e muitos ainda vez por outra me vêm à mente para dizer que ainda sou muito daquela criança.Estava eu aqui insone e de repente esse texto gritou que queria nascer, lembrei desse desejo tão simples, uma boneca de pano...Certamente eu teria sido atendida se pedisse,mas nunca pedi!Talvez fosse um aprendizado para eu entender que há desejos que não se realizam nunca.Talvez porque não sejam para realizar,sei lá.Fato é que minha mãe nunca sequer soube que eu desejava uma boneca de pano...Hoje aquela menina ficou lá tão longe no tempo

mas ao mesmo tempo tão perto em mim.E vez por outra surge arteira me dizendo coisas do tempo que o futuro parecia tão longe...

Engraçado que a gente costuma se fazer de forte,adulto, quando muitas vezes a gente só precisa chorar,admitir que a criança que se foi um dia ainda vive em nós.A boneca de pano, amor irrealizado e inconfessado da minha infância vive em meu imaginário.Eu nunca a esqueci,e agora eu me deixei levar pelas lágrimas que irromperam como poderosa cachoeira abrindo caminhos pelos vales das dores emocionais.Lembrei da minha mãe

que dorme na morte e desabei em lágrimas!A dor que sinto agora é a mesma que senti no dia que atendi um telefonema e ouvi a frase:mamãe faleceu! Senti náusea,o chão sumiu,minha garganta deu um nó...Uma parte de mim morria! A parte que me gerou,a minha primeira morada.Quem sabia tudo do que fui,quem podia me contar histórias da minha infância.Escrevo e a cada letra,duas lágrimas irrompem impetuosas.Talvez essa tenha sido a única forma de chorar para aliviar a dor que estava escondida,camuflada na minha armadura ilusória de adulta.Sou apenas uma criança que perdeu a mãe,e que daria tudo para dizer a ela que um dia sonhou e nunca lhe pediu uma boneca de pano.Um dia irei dizer,mãe.Por enquanto carregarei comigo a dor de nada poder dizer-lhe até o tempo em que a morte será vencida,reduzida a nada e Deus realizará o desejo de toda coisa vivente...Eu tenho esperança!Um dia nos encontraremos,na ressurreição para a vida.Quanta saudade e dor pela minha mãe!

Elenite Araujo
Enviado por Elenite Araujo em 25/10/2011
Reeditado em 25/10/2011
Código do texto: T3296690
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