A era do ser banalizado

Nem sempre foi assim, mas em algum momento todos nos acostumamos a ter nossos amigos e conhecidos disponíveis a qualquer momento, nos sistemas de troca de mensagens instantâneas pela internet, como MSN e os chats do Gmail e do Facebook, por exemplo.

A toda hora, nas redes sociais, mantemos nossos amigos atualizados sobre nossa rotina e acompanhamos os pormenores do que se passa na vida deles. Estamos por dentro de tudo, desde suas mais profundas crises existenciais até a hora da consulta no dentista.

Acredito que um efeito colateral da comunicação pelas redes sociais, ou mesmo pelo Messenger, seja uma certa banalização de nós mesmos. Não ficarão nossos amigos enjoados de nós, que estamos o tempo todo diante de seus olhos, representados pelo nosso simpático e sorridente avatar, que passa o dia invadindo telas?

Quando passamos manhã, tarde e noite conectados, estamos nos colocando à disposição em tempo integral, logo dando motivos para não sermos procurados. E narrar nossa rotina no Facebook ou no Twitter pode fazer de nós pessoas aparentemente maçantes e cansativas.

Há algum tempo reparei que tenho sentido mais saudade de pessoas que normalmente não me fariam tanta falta, pelo simples motivo de que raramente tenho contato virtual com elas. Creio que só a superexposição nas timelines alheias pode fazer com que pessoas legais se tornem mais superficiais do que outras nem tão interessantes, porém menos assíduas no cotidiano virtual.

Como há alguns anos, quando a moda era dar toque no celular. Recebíamos toques e achávamos isso legal, pois alguém lembrara de nós. Mas se passávamos a receber esses toques repetidas vezes, da mesma pessoa, cedo ou tarde acabava o encanto, e então reclamaríamos do pé no saco que não tinha mais o que fazer. Só é legal até banalizar. E nossa atual onipresença na rede banaliza tudo.

Desde o Orkut, em 2004, que sou um entusiasta das redes sociais. Mas tento usá-las com moderação, mesmo quando a vontade é de sair falando o que dá na telha. Pois em que mundo não virtual nós seríamos capazes de suportar a fala de nossos conhecidos sem nenhum intervalo que não seja o do sono obrigatório?

Finalmente, deixo aqui a dúvida. Será que estamos deixando de ser pessoas legais e nos tornando chatos descartáveis, sempre disponíveis para o papo e que tudo contam a quem queira ou não saber?

Andrei Andrade
Enviado por Andrei Andrade em 27/10/2011
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