O amor que sentimos




 
 
                             Começo a imaginar que o mundo seria bem melhor se  houvesse mais ternura.
                               Não dureza com ternura. Que coisa mais estúpida, além de paradoxal: dureza com ternura.  Defendo a  ternura com ternura.
                               O medo nos impede de sermos ternos e sempre  nos achamos no direito de provocar alguma dor no nosso semelhante.  ´
                             É uma pena. Jamais passaremos para o estágio da bondade.
                               Não tenho teoria nenhuma pra tratar desse assunto tão sério.
                               Passo, então, para o meu exercício predileto, divagar e  falar daquilo que todos falam. Do amor. E como é gostoso amar! Estou amando e vou falar dela. Sim, ela existe!  E o nosso cérebro pede, implora que amemos muito e saibamos ser amados. Meus amigos e amigas leitores,  vamos, então, juntos imaginar o nosso amor.              
                               Por que não posso tê-la?  Não, meu amigo, não é tê-la nesse sentido vulgar  de posse.
                               Este sentimento de posse, de propriedade, das coisas efêmeras da vida está conseguindo destruir,  rapidamente,  a própria  vida.
                               O que eu quero dela é a amizade, o seu olhar brejeiro, a sua fala e sua voz maravilhosa. Não queria dizer, mas como me atrai  da moça o seu sotaque...  Sabe, aquele sotaque maneiro?  É de me dar uma alegria muito louca. E se ela me sussurrar ao ouvido, com aquela  linda pronúncia da sua região,   sou capaz de morrer. Que morte linda!  Morrer de amor  e continuar vivo, como dizia o Quintana.
                               Mas tem mais, meus bons leitores, quero mais, muito mais. Quero o sorriso dela.  O carinho que ela me oferece, espontaneamente, sem nada me pedir. Não é gostoso isso?  Não é pra falar disso o dia inteiro?
                               Quero também a saudade dela, o pensamento voltado para mim, inteiramente, todos os dias. Viram,  só!  Tudo isso é impalpável, mas que consigo guardar no meu peito,  com muito amor.
                               Todos esses sentimentos que estão no ar, perfumando minha vida, são muito meus. Nem preciso tocá-la, não preciso ocupá-la, pois ela já está dentro de mim.  Se toco em mim, toco nela...
                               Neste momento em que escrevo, sei ,  que, não demora muito, quem sabe,   vem dela uma mensagem. Curta, mas  que para mim diz  tudo...  Ela vive em mim como eu vivo nela...
                               Tenho mais que uma simples posse do corpo.    
                               Os amores comuns começam com o corpo e jamais chegam ao impalpável, ao indizível.
                               O nosso amor começou pela admiração e foi se avolumando alma a dentro. São  duas almas que se amam, arrastando o mundo das flores, dos pássaros, das águas, do fogo.  Enfim, levando de roldão o mundo todo.  E neste arrastão,  nesta tempestade, nesta enchente de carinhos, nossos corpos, finalmente, vão se encontrar  e expelir  fogo por todos os poros. É um amor com a  força bruta  da natureza. Um amor que faz chover, trovejar e relampejar!
                               Não sou dono dela, nem ela de mim. Este amor sublime, insuperável é que é dono de nossos corpos,  de nossas almas.
                               Cativos do verdadeiro amor: é o que somos!