Cores

Logo cedo, ela montou a barraca de flores. O dia amanheceu frio e sem cor, perdido entre os dias ensolarados daquela semana. Enrolada em um casaco grosso, a florista descarregou os vasos de crisântemos e begônias, cravos e rosas. Em poucos minutos, as cores preencheram a barraca. Havia flores de quase todas as cores, mas as amarelas eram claramente mais numerosas, talvez por predileção da própria florista. Então, quando o sol se encorajou e a manhã esquentou um pouco, as pessoas começaram a chegar. A florista sorria e no instante em que as pessoas apareciam, ela já sabia qual vaso elas deveriam levar. Nem todas concordavam com sua indicação e escolhiam algum outro, certamente por não saberem ao certo o que as flores significavam. Todas aquelas cores e pétalas e perfumes quase conseguiram disfarçar o motivo de todo aquele alvoroço atrás dos vasos. Duas mulheres quase brigaram pelo último crisântemo laranja e um homem implorou por um vaso de margaridas que não havia. Por fim, não sobrou nenhuma pétala, nenhuma cor. A florista olhou satisfeita para a barraca vazia e contou o dinheiro que havia ganho. Quando começou a aprontar-se para voltar para casa, lembrou-se de algo. Mas, não havia mais nenhuma flor. Ainda assim, ela caminhou pelos portões e encontrou dois túmulos empoeirados que, aparentemente, foram esquecidos naquele dia. Então, ela foi até o ostensivo vaso de crisântemos amarelos do túmulo vizinho e roubou duas pequenas florzinhas. Colocou uma no túmulo de seu querido marido e outra no de seu amado filho.