LAMENTOS
LAMENTOS
Oh triste vida ingrata!
Por que queres perpetuar em teu reinado eterno?
Por que não dá vez a serena morte, que calmamente espera o seu dia de glória?
Vida para que viver: Se eu próprio já cavei a minha sepultura. Se eu vivo sem amor. Se a cada dia que passa a volúpia ardente decresce. Se a minha virilidade padece. Se a chama do amor não me aquece. Se a depressão me consome e cresce. Se o ódio em mim remanesce e dilacera meu coração. Se a tristeza em mim prevalece. Se a paz em mim não habita. Se meu coração não bate no mesmo diapasão que o teu. Se meus sonhos desmoronaram como ruínas. Se minhas palavras caíram no descrédito. Se minha renúncia nada somou. Se algum dia alguém me amou. Se não tenho mais o calor dos teus beijos. Se minha única companheira é a cruel solidão. Se não compartilho mais de tua cama. Se não desfruto mais de tuas carícias. Se não tenho mais teus aconchegos. Se não estimulo e nem desperto mais os teus desejos. Se minhas noites são tão frias. Se meus sonhos viraram pesadelos. Se meu choro esgotou-se de lágrimas. Se a fonte secou de anseios. Se meu rio não mais corre no leito. Se a violência impera sem jeito. Se a insegurança me atormenta de medo. Se a corrupção não tem mais segredo. Se o homem não tem mais sossego. Se meu ideal não tem mais apelo. Se meus pensamentos tornaram-se arcaicos. Se minha vontade não é mais aceita. Se minha alma sucumbiu de desprezo. Se não respiro mais os ares da liberdade. Se eu sou escravo de meu próprio destino. Se não gozo mais de tua palavra amiga. Se a felicidade não bate mais em minha porta. Se não pratico mais a caridade. Se a minha fé está abalada. Se as minhas esperanças acabaram-se. Se as rosas secaram de tristeza. Se o brilho do céu não deslumbra. Se as estrelas apagaram suas luzes. Se o sol não nasce para mim. Se o respeito pela dignidade humana ruiu com o desprezo. Se meu Deus me abandonou.
Diante de tudo isso o que eu posso fazer?
Simplesmente morrer.