SE NOS CALARMOS, AS PEDRAS CLAMARÃO

"Uma sociedade acuada nunca atingirá seus objetivos ou realizará seus sonhos."

(Luiz Antônio Damasceno1)

“É triste ver que a criminalidade continua a ganhar campo e, como uma erva daninha, vai se reproduzindo a olhos vistos, deixando a todos perplexos. (...) É frustrante ver a escalada estarrecedora de crimes de conteúdo explícito de violência continuar a crescer sem limites e a sociedade acuada, com o torniquete de sua liberdade apertado ao extremo”. (Eudes Quintino de Oliveira Junior2).

Diante de cada novo crime de morte em Laranjal do Jari, a insegurança e a perplexidade, de tão nítidas, parecem grafadas em alto relevo nos rostos de nossas crianças e jovens. E por mais que se tente encorajá-los, muitos parecem completamente incrédulos em nosso poder de reação.

Talvez, muitos não sabem, mas várias famílias já tiraram seus filhos, às pressas, de Laranjal do Jari, e outras até foram embora junto, sob ameaças de criminosos.

Cada sociedade, em cada geração tem os seus dilemas próprios. Dentre os nossos, atualmente, a [in]segurança pública é um dos mais desafiadores. Como tudo no mundo, o crime se aperfeiçoa, se modifica e se adapta para atingir seus intentos. Na atual conjuntura, os crimes “de conteúdo explícito de violência”, cumprem dois propósitos da criminalidade: subtrair algo (que pode ser a própria vida) da vítima e espalhar o terror, o medo e a intimidação, que fazem com que a sociedade fique perplexa e atordoada, sem saber que rumo tomar: se continua a confiar no Estado e suas instituições (polícias, tribunais, parlamentos, etc.), se os ignora e parte para a justiça própria (adotando a máxima do “olho por olho, dente por dente”) ou se obedece ao crime, acuando-se e se privando de direitos básicos, como: ir à escola, à igreja, à praça ou simplesmente atender uma ligação (que pode ser uma emergência) de celular em via pública.

Enquanto isso, de janeiro a outubro, 21 pessoas foram assassinadas em Laranjal do Jari, a maioria por motivos torpes (http://joaoboleroneto.blogspot.com/).

O cimento de qualquer sistema democrático não são as leis nem os decretos dos governantes, mas a participação popular. O Estado tem sua responsabilidade [e sua culpabilidade] por tudo o que está [ou que não está] acontecendo em matéria de segurança pública em nosso município. No entanto, a sociedade civil organizada – e cada cidadão, individualmente – precisa tomar pra si parte dessa responsabilidade. Essa é uma guerra para a qual todos devemos nos alistar, pois nunca saberemos de onde virá a próxima baixa. A reação precisa partir do lado mais atingido: o cidadão comum.

O medo, o pânico e mesmo o ódio, não trarão as respostas que necessitamos. O combate à criminalidade exige mais do que homens armados e protestos comoventes. São necessárias coragem e determinação; mas também é precioso prudência, organização e inteligência.

Se nos calarmos, quem falará por nós? As pedras?! Não podemos nos permitir chegar a tal ponto. Devemos obedecer às leis e respeitar as autoridades legalmente constituídas, não ao crime e aos seus agentes. Não podemos permitir que o barulho do terror da criminalidade silencie as vozes da liberdade e mine a confiança e a esperança de nossa juventude em uma sociedade na qual ela possa sentir-se assistida e devidamente segura, onde ao menos os seus direitos mínimos estejam resguardados.

Com todas as falhas que temos, ainda somos um Estado Democrático de Direito. E disso não devemos abrir mão.

1 Professor de Língua Portuguesa na Escola Polivalente de Marataizes/ES. In: http://pensador.uol.com.br/frase/NjUxMDAz/

2 Mestre em Direito Público, Professor de Processo Penal, Biodireito e Bioética. Promotor de Justiça aposentado/SP e Reitor do Centro Universitário do Norte Paulista. In: http://atualidadesdodireito.com.br/eudesquintino/2011/10/17/o-assassinato-da-juiza-patricia-acioli/