Dalila – uma namorada diferente e outras  namoradas
 



 
                               Passo por essa experiência de saudosismo. É a idade chegando. Tomo um certo ar  Proustiano. Não em busca do tempo perdido, porque soube viver intensamente. Apenas em busca dessas lembranças ternas,  que de certa forma construíram a minha personalidade.   
                               Acordo pensando na Dalila. Eu que nunca fui Sansão.
                Esta real lembrança  me surgiu  depois que meu amigo Paulo Rego me perguntou sobre o “Castelinho”,  da rua Conde de Laje, na Lapa, no Rio de Janeiro.                                                       
             Na minha época de rapaz, o sexo era severamente reprimido e tínhamos que dar vazão à nossa natureza com as chamadas mulheres de vida fácil. Na verdade vida bem difícil. Não me agradava ver essas mulheres naquela situação, mas não havia outro jeito.  Hoje vejo a geração do “ficando” e, nesse ponto, acho que estão certos.
                                Voltando ao Castelinho. Numa dessas visitas, conheço a Dalila, uma jovem de seus 19 para 20 anos. Mulatinha magra, bonitinha de rosto e os cabelos meio alourados, provavelmente pintados. Tínhamos a mesma idade.
                               Bem encabulado, procurava sempre me encontrar com a Dalila, no bar do Castelinho.  Tornei-me par constante dela. Até que uma noite,  ela não quis aceitar mais o meu pagamento.  Me disse que daí em diante não me cobraria mais. Era de graça.
                               Recordo-me muito bem que aceitei,  por delicadeza. Não havia da parte dela, nem da minha,  qualquer outro interesse, a não ser a amizade mesmo,  que nasceu, sei lá, do nada. Mas sentia que gostava dela.
                               Muitas vezes, ao chegar no Castelinho, via a Dalila se desembaraçar depressa de algum freguês para ficar comigo à noite toda. Isso durou mais  ou menos um ano, quando acabei deixando de frequentar o lugar, que minha sensibilidade não aceitava muito.
                               Lamento, hoje, não ter me despedido dela, que foi tão bacana comigo.
                               E fico pensando:  - onde estará a Dalila? Será que é viva? Qual o seu destino?
                               Torço, sinceramente, para que a sorte tenha sorrido para ela e desejo, do meu íntimo, que ela tenha sido feliz, ou esteja feliz nesta vida.
                               Verifico agora que tenho dificuldades em me despedir. Aceito de pronto as situações novas, sempre penso mais no outro do que em mim. Mas não sei  me despedir...
                               Agora, penso na Claudete. Era paraplégica.  A conheci certa  noite, sentada num banco da praia de Copacabana. Penalizado, conversei longamente com ela. Talvez tenha sido a moça mais bonita de rosto que conheci. Trocamos nossos telefones. Eu dei o do meu trabalho.
                               Pois bem, meus leitores e leitoras, no dia seguinte recebo telefonema dela  me pedindo para encontrá-la na Taquara, em Jacarepaguá, depois do meu expediente.
                               Chego numa praça e a vejo numa cadeira de rodas me esperando. Delicadamente, pego-a no colo e a deixo no banco do carona do meu carro. Ficamos umas duas horas conversando. Deixei-a, novamente,  na sua cadeira de rodas e ela se dirigiu para uma casa perto de onde estávamos, o que deduzi ser a sua residência.
                               A partir desse encontro, passei a vê-la  nos dias dos meus plantões, durante mais ou menos um ano e meio. Saía de Santa Cruz até Jacarepaguá para ficar com ela. Trajeto longo, mais ou menos uma hora.  Houve uma espécie de namoro. Conversávamos muito e, naturalmente, nos beijávamos. Apenas isso. Ela sempre me dizia que faria uma operação que a deixaria boa, que voltaria a andar. Mas isso nunca aconteceu.
                               Novamente, com novos interesses, deixei de ir a Jacarepaguá e nunca mais tive notícias da moça. Mais uma a quem devo a minha despedida.
                               Também não me despedi da Sonia. Essa,  conheci em Natividade, região Norte do Estado do Rio. Uma semana numa fazenda espetacular, que tinha tudo, menos o sal, segundo o dono da Fazenda, Edmar Vargas. Num baile da cidade, paixão fulminante com a Sonia. Retorno para a cidade maravilhosa. Seis meses trocando cartas amorosas. De repente, esqueço-me dela, novos interesses. Soube que ele esteve na casa da minha mãe à minha procura. Não houve despedida...
                               O que eu quero dizer aos meus amigos e amigas é que nunca  tive preconceito com relação a algum pretenso defeito físico para namorar uma moça. Pra completar essas minhas lembranças, conto que  tive um namoro rápido com uma moça que não tinha o braço direito, usava um mecânico. Perdeu o braço debaixo das rodas de um bonde no Rio. Uma moça muito linda. Essa  eu sei o paradeiro dela.
                               Não sei explicar, talvez riem de mim, mas não sei,  se por espírito brincalhão, ou mesmo porque não ligo, vendo  como coisas naturais da  vida, sempre achei interessante e cheguei a sonhar em me casar com uma cega...  Tudo bem: não tenho mesmo preconceito e também não ligo para os sotaques mais esquisitos desse nosso Brasil, mas preciso saber, urgentemente, por que não sei me despedir?
 
Gdantas