Monólogo de um diálogo adormecido

Do Amor que usa, morrendo e dizendo que ama, mas não entende esse "Ente Querido," a diferença entre amar e usar.

Ela bocejava, enquanto eu dizia:

- É preciso se conectar com a família, estamos se relacionando sem conexão, estamos quase todos ligados em uma espécie de piloto automático, luz gerada por um gerador falho e fraco, que vem confundido as nossas emoções as nossas relações estão esfriando, enquanto a identificação do cargo no crachá está se valorizando...

Ela, entre bocejos de um cansaço justíssimo, lampejou balbuciando:

- Eu só sei que eu te amo, meu preto lindo.

Putz, mas você entendeu o que eu quis dizer sobre essa falta de conexão do ser humano? Por exemplo: Você está me ouvindo agora?

- Sim, preto lindo, claro que estou...(rs)

Você acabou de chegar do trabalho, os seus pais e o seu irmão já estão em casa, certo?

- Certo.

Repare que cada um está devidamente em seu quadrado, imaginariamente divididos, psicológicamente falando, respeitando os limites..., você entrou, passou pela sala, foi direto para o seu quarto, passou mal, tomou um banho e um comprimido, foi à cozinha, comeu alguma coisa, melhorou e ninguém te viu chegar, ninguém te percebeu, pior, ninguém te recebeu..., afinal de contas, é possivel está, sem ser, é possível ser, sem está...

Eu me pergunto, se essa era a hora propícia para você falar a respeito do seu dia? Das experiências vividas? Falar das observações sentidas? Falar do aprendizado do dia? Falar dos ensinamentos , mas, falar para quem? Eis a questão.

Enquanto eu viajava no assunto que ninava meu anjo branco, fui remetido a lembrança da infância da minha filha mais velha, ela era menor, acho que tinha entre cinco e seis anos de idade aproximadamente, que mesmo sem reconhecer a posição dos ponteiros de um relógio, ela sentia a minha presença, sempre que eu apontava na recepção do Edifício onde morávamos..., ficava aflita, e enquanto eu não abrisse a porta de casa eu ouvia ela repetir inúmeras vezes:

- Papai, Papai, Papai Chegou, É Papai, Mamãe, Papai Chegou, é Papai..., eis ai um exemplo de conexão, entendeu?

- Mas perai! Ela ainda era criança, passado esse período esqueçamos as coisas de criança, você não concorda?

Mas quem foi que lhe disse que eu estou falando da criança ou de ser criança? Estou falando da capacidade que ela tinha de se conectar ao meu amor, isso era mais forte do que o gerador de luz própria de um amigo quando me convidava para um botequim, mais forte do que permanecer mais tempo no trabalho...

- Você concorda que partindo de uma criança amada e cuidada, isso é para ser considerado um fato comum?

Sim, concordo em número gênero e grau, mas não estou falando isso, estou falando disso, entendeu?

- Não. (rs)

Então explico: Eu estou falando disso e não isso...

- Preto, eu não estou entendendo nada...

Eu estou falando de você chegar em casa e perceber nitidamente a família se religando em você, não importa quanto tempo você passou fora de casa, não importa se você mora em outro Estado, não importa se você vem de outro País, o que importa é que você chegou, o que importa e que acíclicamente falando, vocês voltaram a ser cíclicos, não importa o tempo de duração, estão e são ciclicos para compatilharem, cíclicos para servirem, cíclicos para se amarem, cíclicos para orarem e adorarem ao nosso bom Deus, tudo sem invasão, sem intromissão, sem razão, com emoção, sem intenção, sem função, sem marcação, sem lição, sem reprovação..., só religação, saca?

- Acho que entendi. (rs)

Eu explico: Estamos casados e temos um filho, queremos sair mas não temos com quem deixá-lo, partindo dessa necessidade, nos vem a lembrança que podemos deixar com a sua mãe, afinal de contas ela é a avó do bêbe e não custa nada

- Olha quem chegou...

E a vovozinha cheia de saudades, saudades de um marido que já não é mais carinhoso, saudade dos filhos que cresceram, saudade dos vizinhos que nunca teve, corre para nos recepcionar com amor..., mas e a conexão? A impressão é que a tomada dela não encontra encaixe, apesar de parecer e ser como já dizia Sócrates..., nada acontece, e ela imediatamente liga o gerador próprio, afinal o netinho tão amado está frente a frente com os bracinhos abertos e com um belíssimo sorrisinho nos lábios grita.

- Vovóóóó.

A questão é a seguinte: Ela precisou usar a luz de Deus para não se deixar usar, porque só aprendeu a amar e doar amor..., mas no momento em que lembramos dela, será que lembramos mais por usar do que por amar?..., Não sei. Mas essa não é a questão, a questão aqui é a falta de conexão...

- Ora! Mas eu amo a minha Mãe.

Calma quem foi que lhe disse que você não amava? Eu disse que em nome do amor do próximo e não, por amor ao próximo, o ser humano estão utilizando os semelhantes, como se utiliza um produto qualquer....

A lembrança viva e vivida dentro da cabecinha dos nossos filhos, deveria nos servir de exemplo para aprendermos a reconstruir a conexão familiar a partir do amor e jamais do "usar" enquanto for necessário...

Uma coisa é você dizer ao seu bebê, vamos visitar a Vovó, vamos nos conectar a Vovô, outra coisa é você usar os Avós como área de carga e descarga...

- Mas eles gostam, é uma distração pra eles...

Eu não disse isso, eu disse que se a família continuar abandonando a essência, a pureza, a gentiliza, a atenção , o amor, a doação e o compartilhamento dos bons momentos, dos bons apelidos, das boas lembranças, das boas refeições, das boas orações, perderemos o que tem de melhor, perderemos a capacidade de sentir aquela coçeirinha que a sua Mãe te dava quando você tinha seis anos deidade e que não mudou e jamais vai mudar, o tempo passou, mas o amor permaneceu, quando desligamos essa conexão, amamos sim, mas, mais usamos do que amamos, e o pior, compensamos com presentes, ainda que esses, sejam os netos. Nada contra.

Em nome de Jesus, eu desejo imensamente que usemos menos e amemos mais o nosso próximo, muito mais, porque agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, mas desses três, o maior é o Amor.