“Xará, dize-me que rio tens, (que) te direi quem és”

Era uma tarde... A mulher voltava num ônibus com seus filhos. Passando por uma das ruas o coletivo deu uma parada. Observaram que ali, por baixo das palafitas ribeirinhas passava um pequeno rio. Na realidade, observando bem, não se sabia se era verdadeiramente um rio ou uma vala. Quem sabe tivesse sido um rio? O fato é que a água estava completamente suja de detritos. Uma camada grossa de lixo se espalhava em sua superfície, com raros espaços descobertos, mas que deixava ver o quanto a água havia virado uma espécie de lama. O mau-cheiro era insuportável.

Uma das crianças observou:

_Veja mamãe: quanto lixo jogado na água!

_É meus filhos, quanto desrespeito pela natureza e até mesmo pelo ser humano em si. Como essas pessoas conseguem viver nesse lixo que elas mesmas produziram? É impossível que haja vida nessa água. Está muito poluída.

_ Vejam, ali tem um peixe!

A mãe olhou espantada, sem acreditar.

_É verdade, vejam que ele sobe à superfície para respirar.

Naquele mesmo instante, vimos cruzar o ar, o escarro de um homem que passava, cair exatamente em cima do pobre peixinho que tentava respirar na superfície...

Naquele momento, se mãe e filhos se entreolharam enojados, com a sujeira e o escarro, e sentiram-se como se fora aquele infeliz peixinho: mergulhados no lixo e ainda por cima sujos de catarro.

Tal fato lembrou-me uma frase inscrita em uma das crônicas do escritor Lourenço Diaféria; "“Xará, dize-me que rio tens, (que) te direi quem és”.