Melissa

Como diz um amigo: “A mulher é uma arma de destruição em massa. Ela já derrubou Impérios, já acabou com amizades de vários anos”. Acrescentaria que a mulher se comporta desta forma desde o Éden. Antes de Eva surgir, Adão vivia uma comodidade segura. Bastou o Criador atender os desejos mais profundos de Adão que a rotina dele sofreria uma mudança radical. Juro, não se trata de machismo, mas apenas constatação prática.

Podemos ver esse problema se perpetuando na história. Desde os primórdios, o homem por amor a uma mulher é capaz de matar, de mudar seu destino, de criar novos inimigos, etc. O jovem Kierkegaard entregou seu coração a bela Regina Olsen, Dante largaria suas letras tolas numa simples ordem de Beatriz, o Cavaleiro da Triste Figura lutou contra moinhos de vento em nome de seu amor Dulcinéia del Toboso, etc. Poderia aqui encher esta página com vários exemplos. Ouso ainda me colocar nesta lista de submissos ao amor de uma mulher. Basta minha amada fazer aquela carinha de suborno que fico todo a sua disposição.

O homem traça seus planos com bastante cuidado. Pensa, elabora, mede, analisa, acredita, ora, etc. Preparado avança ao seu objetivo. Mas tudo isso só funciona até o dia que ele se encontra com o amor personificado em carne e sangue. E essa carne e sangue é a mulher. A mulher que domina todo seu ser. Domina seu corpo e sua alma. Domina seus ideais, seus sonhos, seus objetivos; de maneira que seus ideais se tornam a própria mulher amada. E se sente o homem mais feliz do mundo. Toda vez que um homem encontra a sua amada, a sua Beatriz, a sua Regina ou a sua Dulcinéia del Toboso é como reviver o sono de Adão. É como perder de novo a sua costela. Sim, elas são feitas de nossas entranhas. E desde então vamos atrás de nossas próprias entranhas. E como uma peça que nos falta é a mulher amada. É o complemento de nós mesmos.

Pude constatar isso hoje. Ainda estou vivendo esta experiência. Uma mulher carioca foi motivo de ações bandidas aterrorizantes em meu reino tão amado. Em minha tão amada cidade. Não pensem que já esbravejo qual um tolo pelas ruas praguejando desgraças e insultos à cidade de Estácio de Sá. Quem ama esta terra tem que estar pronto qual um santo flechado por amor a amada. Quem não ama e teme o medo de rancorosos covardes que vá. Vá procurar sua cova em terra estranha, pois aqui é terra tamoia, é terra de resistência, é terra de apaixonados. E esse sentimento está no asfalto, no morro, nos becos, nos bares, nos museus, nos centros culturais, nas ruas, principalmente, nas ruas.

(Hoje ainda vi um menino soltando pipa em cima dum telhado de uma oficina. A pipa voava e podia ver lágrimas de quem tem as retinas e rotinas arrombadas)

Mas como dizia acima, uma mulher carioca foi o pivô de uma violência covarde por parte de bandidos que não sabem o significado desta terra. Melissa. Melissa disse não ao seu antigo amor. Inconformado por perder seu amor por causa de outro, o traído bandido resolveu fazer arruaças na Cidade Maravilhosa. Mas Melissa deve resistir e não reatar o romance. Ou Melissa deve ser aniquilada para que a rotina tranquila carioca retorne. A sociedade fluminense está dividida. Uns acreditam que se Melissa entrasse em acordo com o amante bandido, ele daria uma trégua. Outros dizem que Melissa deve resistir, pois ao contrário, poderá se tornar uma escrava de tal malfeitor. Outros, mais radicais, acreditam que deveriam acabar com Melissa e o seu amante bandido. Bem, as opiniões são várias, como sempre foi na terra de Machado de Assis.

Eu vou indo. A despeito da alucinada midia tupiniquin, chego até o Carlitos. Peço a famosa porção de bolinhos de bacalhau e a velha e boa coca-cola. Ali vejo uma nêga e um homem da Lapa mexendo o corpo alucinadamente sob os Arcos do Conde de Bobadela.

01.01.07.

Rodiney da Silva
Enviado por Rodiney da Silva em 01/01/2007
Código do texto: T333574
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