Império do Crime

Império do crime

Não moro no Rio... Não sei o gosto salgado de viver nessa cidade ladeada pelo mar, porque só desfruto as águas doces de Minas. Mas vejo todos os dias na TV, as reportagens mostrando o absurdo do domínio do tráfico e a corrupção da banda podre da polícia nos morros que ladeiam essa cidade. Parece que de repente a polícia se encheu de coragem e foi lá, enfrentar aqueles que faziam dos moradores da periferia os reféns e escudos para suas milionárias transações do tráfico. Fico pensando porque tudo isso que está sendo feito só agora não poderia ter sido feito antes, quando na certa o número de bandidos e líderes do crime era bem menor. Na certa, não havia interesse político, nem pulso firme para exigir que a polícia subisse o morro, enfrentando o armamento pesado, que a toda hora, vemos sendo descobertos e expostos pelos policiais. O engraçado é que a maioria dessas armas é de uso exclusivo da mesma polícia que hoje as descobrem escondidas nas matas, enterradas em covas fundas e em lugares nunca antes imaginados. O que vigorava até pouco tempo, eram as milícias, uma mistura de polícia com bandidos, que serviam a Deus e ao diabo ao mesmo tempo. A administração pública do Rio sabia, assim como o resto do mundo também, tudo que rolava no alto daqueles morros que mais pareciam campos de guerra, com torres de observação com guardas armados até os dentes, controlando a entrada e saída apenas de quem fosse de seu interesse. Morar no morro era o mesmo que compactuar com o crime, porque quem ousasse abrir a boca para fazer denúncias, não o fazia para nada mais. Temos exemplos como o Tim Lopes, covardemente assassinado por ter ousado entrar no território proibido para denunciar o uso e abuso de menores na vida do crime. E como ele, são muitos os que foram mortos, trucidados, esquartejados, queimados e expostos à comunidade, para servirem de exemplo. Alguém , algum dia, poderá escrever a história de horror que era a vida do morro, nesse Rio de paradoxos que chocam. Uma beleza infinita na sua geografia escultural e uma sujeira vergonhosa no avanço e domínio do crime na sua periferia. Não sei se de repente, o governo criou coragem e o povo adquiriu consciência para unir as forças e encarar as balas que varavam de todo lado. Ou talvez, seja 2014 que se aproxima, e a Copa do Mundo precise de um Rio de cara nova, para que as pessoas tenham coragem de andar nas ruas. Se for isso, já terá valido a pena investir tanto para a realização dos jogos no Brasil. Não teremos mais o império do crime nos enchendo de vergonha pela impotência ou incompetência dos políticos desse país, que ao invés de combater o crime, davam guarida de longe àqueles que no fundo, eram as galinhas dos ovos de ouro.

maria do rosario bessas
Enviado por maria do rosario bessas em 17/11/2011
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