Mãe, meu bom exemplo.

Maria, não registraria fatos interessantes, que revivem na minha memória, sem chamá-la pelo seu ditoso nome. Eu quero que, onde quer que esteja, sinta-se feliz e bem-humorada, afinal, esta é a mais bela lembrança que tenho de ti, o seu belíssimo bom-humor.
Maria era uma mulher altiva, austera, generosa e trabalhadora. Eu ficaria horas e horas enumerando as suas qualidades e apenas alguns segundos para revelar os seus defeitos, ela era mandona, autoritária e quando não gostava de alguém, deixava isso bem evidente. Ela não frequentou nenhum colégio e nunca escreveu um poema, mas era romântica, inteligente, autodidata lia e escrevia muito bem, gostava de musica e de dançar. Fez questão que os seus filhos cursassem o primário até receberem o diploma, e se orgulhava desta bem-aventurança, para ela, estudar era o princípio de todas as realizações. Ela estava certa. Quando era pequena ajudou o seu pai a cultivar a terra, na chácara onde ela nasceu e foi criada na cidade de São Carlos em São Paulo. Confidenciou-me num dia qualquer que guardava a imagem do seu irmão Paulo, ainda muito pequeno, com as mãos vertendo sangue sujando o cabo da pequena enxada, que o seu pai havia construído para ele, para que pudesse ajudar a carpir o mato da terra. Esta imagem ela guardava e não conseguia julgar se o seu pai havia agido certo ou errado, porque o seu irmão tornara-se um homem honesto e assim como ela era trabalhador. Os tempos mudaram os costumes das pessoas, dizia ela, hoje, os pais pagam mesadas para os filhos que não produzem coisa alguma, e ainda dizem, se você passar de ano eu dobro a mesada o ano que vem. Os filhos pedem, pai, me dá cem cruzeiros? O pai abre a carteira e dá. Ao invés de responder, dou, se você ajudar a lavar a louça do jantar e varrer a casa sabe, dinheiro não se dá, se paga por serviço prestado. Ela se riu daquelas lembranças, aliás, nós duas rimos e confidenciei para ela que eu também dava dinheiro para os meus filhos comprar geladinho e eles não faziam nada para merecer aquele um cruzeiro. Hoje, eu estou me recordando de alguns momentos que passamos juntas, eu pensei que seria muito diferente dela, que bobagem, eu sou noventa e nove por cento, Maria. O um por cento que falta, equivale a noventa e nove por cento que eu sou. Porque eu jamais terei condições de imitar aquela mulher que tinha tanta fé em Deus e que sempre esperava por Ele.
Um dia, chovia muito, ela pediu que eu levasse o almoço para a minha irmã, que na época trabalhava nas Lojas Pirani, no prato tinha picadinho com batata, estava bem amarrado num pano de prato, mas eu escorreguei e cai, esperta, joguei o prato para longe para não me machucar. Eu voltei para casa e aos prantos contei o que havia acontecido. Ela mandou eu trocar a roupa e descer para ir até a loja novamente, nós tínhamos uma pensão, ela cozinhava para cento e vinte pensionistas, preparava comercial e prato feito, de segunda a sexta-feira. Ela preparou outro prato para eu levar. Eu fui pensando pelo caminho que ela era a mãe mais trabalhadora que existia no mundo. Ela não me deixou dinheiro, jóias, herança nenhuma, ela me deu exemplo, ela me ensinou a trabalhar, eu recebi o diploma primário quanto tinha dez anos e com onze eu tirei a minha carteira profissional, com doze anos eu já trabalhava com ela registrada. Os meus irmãos também começaram a trabalhar com doze anos, e todos, inclusive eu, concluímos os estudos depois de adultos nos supletivos. Tenho dois irmãos que são funcionários públicos, quase aposentados. Nenhum de nós é rico, mas todos nós somos trabalhadores. Eu rendo graças a ela, a minha Maria, que é motivo de alegria e norteia os caminhos que eu tenho que seguir. As pessoas desonestas e que são capazes de enganar, omitir e mentir, não cabem dentro do coração que ela moldou para habitar no meu peito, eu não consigo mudar isso, ainda que eu sofra, porque é o meu coração quem dita as regras para o meu amor, não é o meu amor quem dita as regras para o meu coração. Hoje, eu penso em você, onde quer que você esteja, saiba, eu te amo mãezinha. Devemos criar os nossos filhos dando bons exemplos. E não, apenas, bons sermões. Sermão sem bons exemplos é palha ao vento.





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Estou sem tempo, (risos) estou ajudando a minha filha, ela não pode registrar uma empregada, e trabalho não mata ninguém.
Beijo da nuvem.

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