Natal, Ano Novo e o espelho

Sempre quando se aproximava o Natal, eu sentia uma sensação de recomeço, de vida nova. Era como se todas as janelas do mundo estivessem se abrindo pra mim. Janelas de oportunidades, de realização de sonhos, janelas da alma...Neste ano é diferente: é como se houvesse espelhos substituindo janelas. Mas ao contrário das janelas, espelhos não mostram o que está por vir. Espelhos mostram o presente, nu e cru, olhos nos olhos, face a face. Espelhos mostram o que está por trás de você e lá atrás a gente visualiza escolhas equivocadas, planos que não deram certo, janelas que foram abertas – e eram importantes – mas você nem viu...

Talvez a velhice esteja chegando. Me sinto numa encruzilhada, no eixo da vida, como se tudo fosse agora ou nunca. Parece que não são todos os sonhos que são possíveis de realização. Agora terei que permanecer optando entre um e outro: ter outro filho ou fazer outra faculdade? Ou seria melhor estudar para um outro concurso e depois ter outro filho? O tempo já não é o mesmo pra mim. São 3.6 e nem a música “Vinte e poucos anos” eu posso cantar.

O tempo passou. Eu queria a realização profissional, ser mãe, conhecer o Rio de Janeiro e o Sul do país, talvez a Europa, casar numa praia, ser amada, escrever um livro, plantar uma árvore – risos – e ainda falta tanta coisa...E confesso: já não tenho disposição para correr atrás de muita coisa.

Então é Natal...e chega o Ano Novo...Meu ano novo tem gosto de corrida contra o tempo. O tempo urge, não para ( bem que Cazuza dizia...) e preciso entrar no ritmo dele...ou meus sonhos vão ficar registrados apenas nas páginas imaginárias da ilusão.