Morar sozinho

Nestes pouco mais de três anos como habitante único dos endereços por onde passei, descobri algumas coisas sobre esta valorosa arte de morar sozinho.

A principal delas, acredito, é que morar sozinho é como ser o único ator em um espetáculo repleto dos mais diversos personagens do cotidiano. E mesmo tendo que se virar para representar a todos, ser ainda sua própria platéia.

Mais do que tentar ser um pouco cozinheiro, diarista, eletricista e encanador, é ser seu próprio psicólogo, quando você está deprimido e não encontra saídas para uma vida feliz.

É ser seu próprio enfermeiro, quando a doença atinge o corpo e é preciso controlar o repouso, preparar a canja, tomar os remédios com seus devidos intervalos de tempo.

É ser sua própria mãe, para reclamar dos horários, mandar dormir um pouco mais cedo, sugerir as contenções de despesas.

É também tentar ser seu amigo, tanto o que te faz rir, quando sentir que falta um pouco de diversão, quanto o que te convence a sair de casa em uma noite preguiçosa.

Morar sozinho pode ser a melhor escolha de sua vida. Da minha, acredito que tenha sido. Mas ao mesmo tempo em que nos oferece certa independência das regras familiares, nos torna ainda mais dependentes de nós mesmos.

Andrei Andrade
Enviado por Andrei Andrade em 28/11/2011
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