Você sabe amar?



 
 
                        Não vou me referir ao amor cósmico, o amor ensinado por Cristo.
                        Este verdadeiro amor está em outra dimensão. Refiro-me a  este poderoso sentimentozinho de gostar de alguém e às vezes, muito raramente, ser também gostado.
                        Certo?  É disso que quero tratar aqui. O Távola esmiuçou  essa questão por todos os ângulos possíveis e imaginários. Não tenho os livros dele mais antigos, todos esgotados. Seria de grande valia ler o que ele escreveu. Vou recorrer aos meus pobres conhecimentos.  Pensando nos meus amores, dos amigos, das amigas, talvez consiga passar alguma coisa. Há muita a coisa a dizer sobre amor. Os que só sabem amar, os que só sabem ser amados. E por aí as confusões, desilusões, impasses, sofrimentos acontecem.
                        O jeito de gostar de alguém que não nos satisfaz.
                        De cara, vou logo dizendo que poucos ou poucas sabem amar.
                        Amar exige paciência, saber suportar ausências, as carências do outro, as irritações, eventuais ódios, raivas. É muita coisa pra suportar. Mas quem sabe amar intui e sabe que o ser amado pode passar por essas crises e tem a convicção desse amor em razão da constante presença desse ser tão contraditório. Quero dizer, para ser melhor entendido: o cara está ali  na mesma casa da amada, mas sempre ausente, sempre irritado, porém, não vive sem aquele amor. Claro, há o desamor total, mas estou falando quando ainda existe amor, amor torto, mas existe.  Mas há uma diferença fundamental de quem sabe amar para quem não sabe amar. Quem sabe amar não é masoquista, não sofre indefinidamente. Depois de um tempo, não recebendo de volta o amor que está doando, chega o dia em que  desiste.  E desiste de vez, é uma vez só. A desistência é pra valer.
                        É possível que quem sabe amar seja menos neurótico, daí não ficar naquelas idas e vindas, e nas brigas infindáveis.
                        Saber amar é bem difícil porque exige de quem ama toda essa sensibilidade de procurar entender o outro. Por vezes, há a impressão de que a pessoa amada só tem desamor, agressão, mas,   por paradoxal que seja, muito “desamor”, muita  “agressão” pode ser uma forma de amor.  E  só as pessoas empáticas, aquelas que sabem se colocar na situação do outro, conseguem enxergar isso. E as pessoas que sabem amar  não têm medo de ser amadas. Poucos  percebem isso. O medo de ser amado é mais comum do que se pensa. A carga de responsabilidade é enorme. Saber aguentar o outro, o diferente da gente, com toda a carga de problemas que carrega. Manter esta convivência sempre difícil é pra poucos. Ser responsável pelo que cativou quando ainda o amor não havia sido aceito. Fazer gracinhas, poemas, dizer coisas bonitinhas, afagar o “ego” do outro, sem maiores responsabilidades, é mole. Imagino o  susto do neguinho despreparado para a vida, que mal se conhece, ouvir da amada que aceita o amor dele e que entrega de agora em diante o seu amor só para ele...
                        É por isso que sempre dei o maior valor a quem me encarou, pois sempre fui uma pessoa complicada existencialmente, no difícil quesito do amor. Tive amores  que tiveram a    coragem de gostarem  de mim e souberam manter o amor por muito tempo.
                        Quem sabe amar tem essa   coragem de amar e  não tem medo de ser amado.  Lamento dizer  que, pelo menos, por duas mulheres fui muito amado.  Mas não soube amá-las. Penso que dei as dicas para se saber amar.  Espero também  ter ainda tempo para aprender a amar...