O FOGO QUE QUEIMA

Esta semana, ao chegar à Universidade, um colega de curso veio ao meu encontro e, sem ao menos dizer o motivo, me disse:

- Você tem uma semana para me trazer uma crônica que fale sobre o fogo.

Fiquei pensando na proposta. É claro que não podia me negar ao pedido dele, entretanto, o tema me intrigou. Não pelo fato de ser fogo, mas por ser fogo ou o fogo, um dos maiores espetáculos da natureza – independente de trazer, em muitas das ocasiões, desditas para os habitantes da Terra.

Isso me instigou a escrever sobre o tema.

É claro e evidente que, em se tratando da palavra fogo, temos aí várias alternativas de interpretações; por isso eu ficar incitado a desenvolver um raciocínio sobre que tipo de fogo eu poderia escrever.

Não pude pensar em apenas um tipo de fogo, pois a palavra fogo é dotada de várias conotações, o que me levou a divagar, de mansinho, sobre o objeto proposto pelo caro colega.

Para começar, um dos maiores espetáculos que a mãe natureza proporciona, quando se revolta, é dado através dos vulcões. A quantidade de fogo que desce, montanha abaixo, em forma de lava, é de uma beleza sem igual. Parece um tapete vermelho no qual desfilam as estrelas de Hollywood, em noite de Oscar. Se não fosse a destruição e a desgraça, através dos imensos desertos criados pela passagem da lava incandescente, poderíamos classificar – se existisse um ranking – como uma das sete maravilhas do mundo. Como registro histórico, o Vulcão Vesúvio, que em 24 de Agosto de 79 d.C. soterrou a próspera cidade de Pompéia, na Itália, matando cerca de três mil de seus habitantes.

No entanto, nem só de destruição vive o fogo. O sol, por exemplo, é uma bola de fogo e nos proporciona – mesmo tendo uma temperatura na sua camada externa entre um e quinze milhões de graus kelvin – a vida. Sem ele não existiríamos. Ele nos aquece, transforma escuridão em claridade e ainda faz brotar, do solo, a planta para nos alimentar. E nos dá o conforto do mundo moderno, através da geração de energia para esfriar os ambientes, iluminar nossas casas, esquentar a água em noites frias e esfriá-la em dias quentes quando a sorvemos para matar nossa sede.

Porém, nada se compara a beleza do fogo que o sol nos presenteia – todos os dias – quando do seu adormecer. O pôr-do-sol é um dos momentos mais deslumbrantes da Criação Divina: quando ele vem descendo para se esconder por trás dos oceanos, deixando um rastro encarnado nas águas salgadas dos mares, o brilho de sua cauda ofusca o maior de todos os espetáculos já produzido pelo homem. Água e céu se misturam e dão um tom mágico ao universo. É como se o Criador estivesse se apresentando para sua platéia e dizendo: sou Atum, o deus-sol do entardecer!

Mas o homem nem sempre sabe admirar as coisas da natureza. Muitas das vezes, o espetáculo da vida, o zelo pelo fogo sagrado ou a própria beleza que o fogo nos proporciona não são motivos de agradecimentos e/ou reverências para com o mistério da nossa existência.

Por isso eu fiquei pensando... Qual será o fogo que mais encanta, que mais domina, aprisiona, enfeitiça e é, em todos os tempos, disputado pelos seres humanos?

Claro! O fogo do amor!

O fogo do amor é, sem dúvidas, o fogo que mais queima, mais aquece, mais alimenta, mais embrutece e mais se consome entre os mortais.

Sem ele não há razão para se viver. Simplesmente porque o ser humano não é totalmente racional. Suas emoções afloram mais que as ditas razões. E ninguém é imune à chama incandescente do fogo do amor. Por ele homens duelam, matam e morrem. E nada serve como exemplo, pois o fogo da paixão é único para cada essência. Jamais se processa igual, visto que, cada um de nós o vê através do nosso coração – portanto, terreno independente de nossas vontades.

Para se ter uma idéia de como o fogo do amor é importante - e pleno - para os homens, basta nos lembrarmos dos poetas: todos eles, sem exceção, exaltam a paixão como o principal motivo de suas existências e, claro, de suas poesias. Até Luiz de Camões escreveu um dia: Amor é fogo que arde sem se ver;/É ferida que dói e não se sente;/É um contentamento descontente;/É dor que desatina sem doer...

Assim, o fogo do amor é o condutor emocional de nossas ações, nos tornando sedentos de desejos e criativos na conquista. E ele, assim como o vulcão, de tempos em tempos, transborda. E do seu interior sai a lava profícua que, em consonância com outro coração apaixonado, gera a vida que faz com que haja sempre a beleza de mais um entardecer no horizonte, ou seja, o encontro do sol com o mar: um crepúsculo das águas.

Nota autor: esta crônica é uma reedição
 
Raimundo Antonio de Souza Lopes
Enviado por Raimundo Antonio de Souza Lopes em 04/12/2011
Reeditado em 19/04/2019
Código do texto: T3371471
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