Quem pergunta, nem sempre quer saber

Não existe nada mais comum num encontro entre amigos, principalmente entre aqueles que não se veem há bastante tempo, do que um questionário às vezes tímido ou, por vezes quase interminável de perguntas pessoais. É próprio da natureza humana querer saber como o outro tem passado, por onde tem andado, o que fez durante esse intervalo em que não se viam, quais as novidades...

Os encontros podem ser demorados, como também podem não ter a extensão necessária à satisfação das expectativas dos que se encontram. São tantos os assuntos, são tantas as figurinhas a serem trocadas, que você nem sabe por onde começar. E se o tempo estiver curto, então, disparamos nossa metralhadora de pontos de interrogação em todas as direções na tentativa de obter o maior número de informações possível e... salve-se quem puder!

É fato que em determinados momentos, melhor do que afirmar é perguntar. As perguntas movem o mundo. Não existe uma etapa de nossa evolução como seres humanos que não tenha sido determinada por uma boa pergunta. Foi pra isso que elas foram feitas. Mas elas foram feitas também para movimentar encontros, enriquecer relacionamentos, fazer com que eles cresçam.

Em geral, o tempo é apenas um fator a mais que determina a qualidade desses encontros inusitados. Outros fatores, como a ansiedade e a pressa, por exemplo, ficam a cargo do tempo que tudo transforma. Os minutos, as horas, os dias passam e tudo muda. O mundo inteiro muda. Mudam as pessoas. Mudam as circunstâncias. Mudam os interesses. Algumas pessoas evoluem com o passar dos anos e evoluem muito. Outras, simplesmente, estacionam. Ainda assim, não permanecem sendo as mesmas. Isso tudo faz uma enorme diferença em um encontro que se teve há alguns anos contra outro mais recente.

Não obstante todos esses fatores, talvez só mesmo a velocidade com que o mundo gira consiga explicar a pressa que temos para falar e, mais ainda, para ouvir. Esquecemos, até mesmo, que sabiamente fomos dotados de um único órgão para falar (menos) e dois para ouvir (mais). O resultado dessa ópera é que criamos o hábito de colocar o carro à frente dos bois e acabamos atropelando ou atrapalhando tudo. Se pararmos para pensar, toda essa pressa está se estendendo aos encontros diários e mais comuns que temos com nossos interlocutores.

Você, por acaso, se lembra de ter feito uma pergunta a alguém e, logo em seguida, teve a nítida sensação de que não “ouviu” ou não se lembra exatamente da resposta que lhe foi dada? É bem provável que sim. Comigo já aconteceu um bom número de vezes para, logo em seguida, cair a ficha e me obrigar a rever os meus padrões de comportamento. Nossos ouvidos são seletivos e dão importância tão somente ao que nos interessa.

É fácil perceber que a sensação que fica do lado de quem tenta responder é a de que a pergunta foi feita ao acaso, por uma mera questão de formalidade. Qualquer coisa que você respondesse não ia fazer a menor diferença para quem perguntou. É triste ter que admitir, mas suas palavras foram jogadas ao vento. Uma mesma pergunta quando feita por mais de uma vez num curto espaço de tempo é sinal quase garantido de que o questionamento foi em vão. E quem perguntou, não estava tão interessado assim em receber algo de volta.

Não deveria parecer “natural”, mas na maioria das vezes, nem percebemos que as interações acontecem dessa forma. Esse é o tipo de hábito que já foi incorporado à rotina, principalmente, de quem vive em um mundo veloz. No entanto, é sempre um ótimo exercício de “escuta” ficar atento a cada encontro, a cada pergunta, a cada resposta ou afirmação. Somos testados todos os dias. Perceber que os dois lados estão em sintonia, não só torna os diálogos mais agradáveis e interessantes, como também reflete um verdadeiro sinal de respeito, interesse e demonstração de um elevado grau de consideração pela pessoa do outro.

Mano Kleber
Enviado por Mano Kleber em 05/12/2011
Reeditado em 25/10/2012
Código do texto: T3373361
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