Amor em condicional
A sociedade prende-se no clichê: "Amor tem que ser livre!" Vemos nos sites de relacionamentos a opção: "Relacionamento aberto" e encaramos isso como livres de qualquer responsabilidade.
Mudam-se os valores, mudam-se as causas, enfim, muda-se.
Aquela dorzinha de ansiedade do: "Será que ele vai ligar?" já entrou em extinção.
A filha preparar o pai a semana inteirinha para que o namorado possa vir pedi-la em namoro no final de semana? Coisa de novela de época.
E assim vamos nos inclinando em uma era "Em Condicional"...
Amamos por encomenda.
Sonhamos por encomenda.
É como entrar em uma loja, escolher as roupas, levá-las para casa, experimentar uma a uma e depois escolher -a que me caiu bem, a que mais me agradou, a que me deixou mais magra... E o que sobrou volta pras prateleiras da loja, até outra vir e fazer a mesma coisa. Um ciclo.
Não concorda? Segue o raciocínio:
Sábado a noite, você escolhe a balada como quem escolhe uma loja, seleciona os amigos como quem seleciona que modelo de roupa comprar. Dá um olhada geral, como quando passa os olhos pelos cortes e cores. E aos poucos vai selecionando, aquele com ar de intelectual, o da tatuagem, o com o copo na mão... e sai a caça.
Leva para casa, nem que seja na memória, e durante um tempo, seleciona o que mais lhe agrada.
O fulano mandou flores para você. E daí? Nunca reparou que ele só usa sapatos marrom?
O outro lhe falou palavras bonitas. Mas você não reparou como é magrelo? Pareço enorme perto dele.
Criamos amores em condicional, descartamos, acatamos...
E onde vamos parar, pergunto-me frente ao espelho.
E assim, escolhemos nosso amor em condicional para amarmos incondicionalmente, pelo menos até surgir um novo modelo que não pode faltar no guarda-roupas.
Mas quer saber? Ainda acredito no amor como peça única, aquela relíquia guardada a sete-chaves, desenhado exclusivamente pra mim, meu número exato - por mais (c)raro que seja isso!