URBANO-RURAL

É um bairro literalmente de periferia. Fica na divisa de São Paulo com o ABC...D...E...tecétera. Tem lá os seus inconvenientes mas, como tudo na vida, basta que se consiga ver com outros olhos e algo de bom se descortina. Parece uma cidadezinha de interior. Verde, muito verde. Praças, muitas praças grandes e bem cuidadas.

Cheias de árvores, caminhozinhos, bancos de diversos jeitos. Namoradeiras, o banco reto retangular de onde o sem teto oberva a lua e até mesinhas redondas com banquinhos redondos também, para a reunião de amigos. Ainda não vi em São Paulo praças como aquelas. Aliás, justiça seja feita, parabens à sub-prefeitura, pelo menos nesse quezito nota 10. Isso mais para o bairro vizinho, que é caminho, passagem obrigatória para qualquer saída. Lá onde o saudoso Adoniran chegava no trem das onze. Nas ruas fácil se vê charretes puxadas por um cavalo. Por detrás de muretas feitas pela prefeitura separando a mata do que ainda não virou jardim, ou favela, cavalos inquietos se movimentam. Brancos, marrons, castores... Sempre procuram um jeito de esgueirar-se por cima do muro, mostrando suas caras bonitas. Às vezes judiadas. Árvores frutíferas muitas também. Pés de amora, goiaba, ameixa, abacate, manga, pitanga, mamão, limão, bananeiras. Tem também coqueiros, quaresmeiras, primaveras, chorão, etc. Flores simples, daquelas que, como as também presentes "maria-sem-vergonhas", simplesmente nascem no mato, colorem toda a paisagem e espalham os seus cheiros de natureza.

Crianças brincam na rua. No verão então, nem se fala!

Brotam na rua como os siriris. Ou aleluias... enfim.

Uma criançada de todas as idades. Algumas ainda nem aprenderam a andar e já estão espreitando os segredos da rua no colo de um irmãozinho ou irmãzinha, que, pequenos ainda, mal conseguem segurá-las no colo. E as ruas tem um movimento próprio, sincronizado. Sempre, por volta das 18, quando começa a escurecer, uma voz feminina, madura, precorre as ruas por entre o movimento todo gritando: "apió", "apió", e vai repetindo até sumir o som da voz.

- "apió" ?! - o que ela fala?

- Não sei não.

Que coisa, tinha que ser surdo também?!

Um belo dia, caminhando pela rua bem naquele horário a voz em vez de sumir foi aumentando. Sentiu um toque de satisfação. Iria saber afinal o que era "apió". Até que quase num susto, bem perto do seu ouvido, escutou bem: - " TAPIÓCA" ?!

Na pressa, olhou rapidamente, queria observar melhor, mas não era possível naquele momento.

- Sabe o que ela fala?

- Já disse que não!

-Ta-pi-ó-ca!!!! Triunfante!

E a noite se vai com seus silêncios e barulhos peculiares. Cachorros que latem, um malandro que chega de madrugada e "num tá nem aí" passa com seu carro, som ligado bem alto. Fank, é claro! (Esse é o lado B). Há quem se vire na cama. Algum pensamento perpassa pela mente sonolenta. Silêncio!

E aí vem a manhã! Que coisa mais gostosa é a manhã naquele lugar cheio de verde, com cheiro de mato, cheio de árvores e flores, galo cantando e um passaredo animado anunciando o novo dia! Uma caminhada de quinze minutos que seja, é uma verdadeira injeção revigorante do ânimo para começar bem o dia.

Lá tem um Lado "A" e um lado "B". Quando se ve o lado "A", periga esquecer o "B". Periga mesmo!

Nilamaria
Enviado por Nilamaria em 08/12/2011
Reeditado em 13/12/2011
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