Catedral de Petrópolis
                                                                                        vista da Av.  Koeller


IMPRESSÃO

                       A casa, me parece, era branca, assobradada, com alguns detalhes em madeira. Tinha um exuberante relvado verde escuro semelhante àquele que crescia na margem dos rios. Talvez venha daí a minha atração pelos rios, pois eles estavam presentes em todas as ruas por que possávamos, transbordando de hortências viçosas.

                       Flores... não sei se havia. Recordo, porém, das camélias lindas e delicadas, espiando dentre as grades de alguns jardins vizinhos.

                       Essas as minhas primeiras lembranças de férias fora de casa: dali da casa da Avenida Koeller, em Petrópolis, onde, tantas vezes, se juntava uma dezena de crianças, primas entre si, vindas de diferentes lugares.

                       Não pensem vocês fosse a casa propriedade de meus pais ou de algum parente abastado. Nada disso. Nunca pus os olhos em cima dos donos ou lhes vi a sombra. Sabia, é claro, que existiam, mas não faziam parte do meu universo.

                       A explicação é simples: meus tios (ele irmão de minha mãe) tomavam conta da casa, vazia a maior parte do ano e, a bem dizer, moravam lá. Impossivel esquecer da tia Zefa, irmã de minha mãe e governanta da família. Isso, mais que tudo, explica o inexplicável.

                       De qualquer modo não posso deixar de pensar na singular relação existente entre nós e o proprietário, pois, forçosamente, tínhamos que contar com o seu beneplácito.

                       Para nós, crianças, esse detalhe carecia de importância. Nunca nos sentimos intrusos. Também não entrávamos na parte nobre da casa - não nos fazia falta; o que restava para nós era mais que suficiente. Quantas e quantas brincadeiras inventávamos, quantas e quantas horas divertidas desfrutávamos esquecidas de tudo a não ser daqueles momentos.

                       Uma vez, eu bem me lembro,resolvemos brincar de teatro e toca a procurar poesias nos livros de colégio. Os tios, certamente, não entenderam muito mas, mesmo assim, aplaudiram com entusiasmo o grupo tão promissor.

                        Foi justamente lá, em Petrópolis, depois de muitos tombos, que aprendi a andar de patins no rinque a que costumávamos ir á tardinha. Que delícia o balanço da praça que me dava a sensação de voar! E os dedos queimados numas férias de junho... trago, ainda, as marcas gloriosas.

                        Quanta coisa para ver! Quantas mais pra recordar... O Palácio Rio Negro, o Museu Imperial, a Catedral tão pertinho... o ruído das charretes rolando nas pedras da rua nas manhãs enevoadas em que a neblina convidava a preguiçar.


                                                         Novembro - 1994