PRESENTE DE NATAL

Eu andava sonhando com aquela boneca bonita que eu via todos os dias na loja do Kalil Kafuri... Boneca do meu tamanho, roupinhas lindas, sapatinho com salto, cabelos louros amarrados com fitinhas vermelhas... Eu já sabia escrever e não deixando de acreditar, escrevi minha primeira e única cartinha ao Papai Noel, pedindo aquela linda boneca...

Na noite de Natal, como era sabido de todas as crianças, ele viria e traria nossos presentes. Lá em casa não tinha chaminé, muito menos lareira para ele entrar, nem sequer árvore de natal enfeitada, nem meia na janela onde ele pudesse depositar nossa alegria embrulhada em papel colorido, ... mas dentro de mim havia aquela espera, a certeza que ele viria... E embalada nessa esperança dormi até o outro dia, quando acordei com minha mãe me entregando um embrulho e dizendo, com seu jeito simples e rudi pelas agruras da vida:

_ Aqui, minha filha, seu presente de natal!!!

Levantei do ninho em um pulo só, pra ver a minha tão sonhada e desejada boneca... Rasguei a embalagem com avidez e quando vi, confesso que, em silêncio, eu chorei: não tinha os cachinhos de ouro atados em fita vermelha, nem a roupinha lindinha e o sapatinho de salto, nem se aproximava da boneca de minha tão longa espera. Meu rosto entristecido revelou-se em tristeza também no rosto de minha mãe.

Pensei que talvez Papai Noel não soubesse ler, e por isso mandou presente errado, ou talvez tivesse se enganado de endereço, talvez!!! Aos prantos, chorando muito, num canto eu a deixei, e fui perguntar mamãe se o Noel volta outra vez... e ela desapontada disse a mim, desconsolada: Perdão, minha filha, perdão! Se o presente não lhe satisfez! Eu não tinha o dinheiro pra compra a que queria, mas pra não deixá-la sem, trouxe essa que eu lhe dei!!!

Abracei minha mãezinha e daquele instante em diante, aquela boneca feia foi a que eu mais amei... Desde então eu descobri que o natal, esse que se comemora com troca de presentes trazidos pelo vulgo “bom velhinho”, pra criança pobre não existe e quando existe é cruel, pois perpetua e revela a diferença e a desigualdade... Não comemoro o natal, não enfeito árvore, não coloco pisca pisca, não espero há muito tempo, o Noel que nunca vem... a ilusão consumista, foi-me substituída, muito cedo, neste vida, pela verdade de que o amor, vale mais que um brinquedo.

Minha mãe não tinha como dar-me um presente caro, mas o que ela me ofereceu, na sua verdade simplória com um único gesto, pode mudar minha história. O Noel que inventaram não visita casa pobre, não sabe ler o bilhete, a cartinha da inocente pobrezinha.

Esses ícones do consumismo criados para satisfazer uma necessidade de venda do mercado de consumo, fazem aumentar as desigualdades, e crescer as diferenças... Hoje penso que Noel, como dizem “não se esquece de ninguém”, até quis lembrar de mim de fato e mostrar que sem o vil metal, da gente ele passa longe, e penso que eu lucrei, pois em todo esse tempo, quem esqueceu dele fui eu... No natal eu simplesmente comemoro a lembrança do nascimento de DEUS (Jesus) que se fez homem entre nós pra curar-nos do pecado e nos presentear com a sua salvação...Noel,... é pura ilusão... bobagem... que o mundo inventou pra nos afastar de DEUS.

Irene Cristina dos Santos Costa - Nina Costa, 12/12/2011

Nina Costa
Enviado por Nina Costa em 12/12/2011
Reeditado em 13/12/2011
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