Minha vida é...

Minha vida, desde o início, é saudade. Porque quase nada das minhas primeiras etapas durou. Um a um, mudei de colégio, casa, cachorro, cidade. Fiquei, então, rodeada de elementos desconhecidos, aterrorizantes – sendo eu, no entanto, o destaque entre os estranhos, a forasteira que todos encaram com olhos desconfiados.

Minha vida é espera. Riscando as semanas no calendário, sonhando com o futuro em que eu poderia voltar, revisitar meus lugares preferidos, tão familiares, e sentir na pele o conforto de fazer parte de um grupo, resgatar as felicidades que minhas memórias sempre me narravam.

Minha vida é distanciamento. Porque essa saudade constante dói tanto. E minha principal defesa, senão a única solução para meus dilemas, é fechar as portas do passado e ir para bem longe – até em pensamento – das minhas mais sorridentes experiências. Começos, afinal, exigem a aceitação dos fins anteriores.

Minha vida é, enfim, reestruturação. Coração aberto para diferentes amigos, cachorro, bairro, os novos capítulos. Descubro nesta fase que o mundo é um extenso leque de possibilidades de se ser feliz, basta que eu não fique presa à missão de substituir as perdas com cenários semelhantes.

Mas minha vida logo volta a ser saudade. As coisas, mesmo as que amamos muito, não costumam permanecer para sempre. E o kosmos definitivamente não respeita meus planos. Gosta de impor seus caprichos sobre mim com a mesma insensibilidade de um rico mimado...

Sacode mais uma vez minha rotina. Tira emprego, família, casa, meus portos seguros. E me força a viver dias de ânsia, encarando o relógio avançar para o futuro. Até que a espera em si representa o que me mata pouco a pouco e eu me obrigo a começar do zero de novo... de novo... Até quando?

Quanta saudade é possível carregar no peito sem amargar meus outros sentimentos? Quantas perdas alguém consegue suportar antes que todo o calor de dentro vire gelo? Quantos novos amores dá para o coração cultivar mesmo sabendo que tudo se vai, tudo é efêmero? Quantos novos capítulos posso escrever na minha vida sem ser travada pelos “e se” de cada realidade que fui forçada a deixar para trás?