O PRECONCEITO REVERSO

Ha algum tempo atrás, a pessoa ter estudos, ser educada, fazer parte de uma camada social elevada, era considerado bom.

Hoje, após o advento do presidente sem nenhuma cultura e com pouco tempo de colégio formal, ficou uma situação insustentável.

Em um primeiro momento, ficamos embevecidos com a sabedoria daquele senhor, que se dizia pobre e vindo do interior de carona em carrocerias de caminhões, perfazendo uma viagem do nordeste ao sudeste. Que conseguiu não só ter um emprego e sustentar sua família, como chegar a ser presidente de um país.

Vamos considerar, é muita coisa.

Para a maioria da população, era uma coisa maravilhosa, pois dizia que qualquer um pode conseguir seus sonhos, até mesmo ser presidente do país, sem ter dinheiro ou educação.

Esqueceram de dizer que aquele senhor utilizava aquela historinha como sua propaganda pessoal, e que ele tinha carisma, o que não é pra qualquer um.

Muitos sindicalistas, iguais a ele, que também vieram das camadas pobres da população, que também lutaram contra a ditadura, assim que tiveram oportunidade, estudaram. Mas aí, deixaram de ser iguais aos seus, e perderam este veio, esta propaganda: “Sou igual a vocês”

Nunca foi dito que o tal presidente não estudou por não querer, já que oportunidades não lhe faltaram pela vida. Que ele deixou a pobreza muito antes de se tornar presidente.

Disso tudo, estamos ficando um povo que não mais acredita que a educação pode elevar seu status social. Não estou dizendo que apenas por ser formado em uma faculdade o cidadão passa a ser rico financeiramente, mas ainda acredito que seja um bom caminho, se não ganhar dinheiro, pelo menos adquire conhecimento.

Como sou psicótica, penso se isso tudo não foi para diminuir a vontade das pessoas em ter uma formação, já que é muito mais fácil lidar com um povo sem instrução, aquele que não assiste ao jornal pois não o entende, preferindo programas mais leves.

Um grande mestre um dia me disse que só é realmente culto quem assiste a algum jornal e o entende, em todas as suas notícias, sejam elas económicas, sociais, políticas, etc. Quem assiste ao jornal das oito e não entende o que estão dizendo, é apenas mais um esperando a novela.

A falta de instrução modifica tudo, inclusive o gosto musical. Basta ver as músicas que estão fazendo mais sucesso, prestar atenção nas letras completamente pobres, algumas com erros de português que passam despercebidos, e por alguns “intelectuais” até comemorados.

Aliás, os erros na língua lusa estão sendo apreciados como nova arte. Sequer podem ser corrigidos.

Quando se senta em uma mesa qualquer tem que ficar atento para não dizer a sua formação, e principalmente se você não veio de classe pobre, fique calado. Nunca diga que se formou em curso superior, e jamais diga que sua família não enfrentou problemas para pagar sua formação acadêmica.

Atualmente, quem pertence a classe média (nem precisa ser rico) a mais de vinte anos, é considerado ruim, alguma coisa fizeram de errado, ou alguém da sua família roubou algo, geralmente das tetas do governo. Fica aquele gosto amargo, você se defendendo de algo que não existiu. Então é melhor ficar calado, finge que não ouviu a pergunta, e se comporte como alguém que ralou muito. De vez em quando fale até alguma coisa errada, tipo “poblema”, para se encaixar na roda sem problemas. Nunca use “nós vamos”, lembre-se que tal termo foi assassinado por “ a gente vamos”.

E, no fim, espere, tenha fé, um dia, as pessoas que ontem batiam no peito para dizer que votaram naquele presidente, hoje já começam a perceber que a escolha não foi assim tão boa.

Não por ele ser uma pessoa sem instrução formal, mas por ele não ser tão honesto como se pensava.

Percebem aos poucos, que ser pobre não é sinônimo de ser honesto, e que ser rico também não é sinônimo de bandido.

Acredito fielmente que independente de qualquer governante, as coisas não ficam mais paradas. Existe a globalização, existe a internet, as pessoas estão querendo trabalhar, comprar coisas, acabam querendo um emprego melhor, e percebem que tais empregos exigem formação. Estão querendo a formação para si e para seus filhos, não por perceberem o quanto isso muda uma pessoa, ainda não, apenas por saberem que qualquer tipo de formação poderá ajudar a ganhar um pouco mais.

Estamos em um momento de transição. Não admitem que ser rico é bom, mas ao mesmo tempo procuram uma forma de ganhar mais dinheiro.

Ainda vemos nas novelas os ricos serem os vilões, e os pobres os mocinhos. Não me recordo de um personagem de novela rico e bom caráter.

É um contra senso, as pessoas correm atrás de dinheiro, mas ao mesmo tempo, consideram as que já tem o vil metal em quantidade, cidadãos pouco honestos.

Realmente não consigo entender, parece inveja, mas ao mesmo tempo um tipo de despeito, sei lá.

Observe as frases:

Um rapaz saiu com seu carro e atropelou um senhor em Sampa, foi trágico, morte.(A notícia para por aí).

Um rapaz saiu com seu carro super luxo e atropelou um senhor em Sampa, foi trágico, morte. Ele tinha um carro valioso e possante, era um riquinho. Não tem amor pela vida. Estava saindo de uma boate, etc. (A notícia continua, procuram os familiares da vítima, o curriculum do autor, e por aí vai. Exploram ao máximo o fato).

Duas pessoas morreram, mas a que foi atropelada por um carro de luxo, é mais dramático?

Cala-te!

Cinthya Fraga
Enviado por Cinthya Fraga em 26/12/2011
Reeditado em 18/02/2017
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