Qualquer semelhança é mera coincidência.

Alguns exemplos de desinteresse nos ministros do Império

Os ministros da regência de D. Pedro I reduziram seus ordenados à metade do que eram no tempo de D. João VI. Ficaram em quatro contos e oitocentos mil réis anuais, divididos mensalmente.

José Bonifácio recebeu certa vez o seu salário de quatrocentos mil réis, colocou as notas no fundo do chapéu, e no teatro lhe roubaram o chapéu e o conteúdo. No dia seguinte, achou-se sem ter com que mandar comprar o jantar. Não possuía nem um vintém mais, e seu sobrinho Belchior Fernandes Pinheiro foi quem pagou as despesas do dia.

Em reunião do Conselho, José Bonifácio referiu esta ocorrência e a extrema necessidade a que ela o reduziu e à sua família.

O Imperador entendeu que o ministro, visto a penúria em que se achava, devia ser indenizado, pagando-se a ele outro mês de ordenado, e neste sentido deu ali suas ordens a Martim Francisco, irmão de José Bonifácio e ministro da Fazenda.

Martim Francisco não obedeceu.

Argumentou com o Imperador que não havia lei que pusesse a cargo do Estado os descuidos dos empregados públicos; que o ano tinha doze meses para todos, e não treze para os protegidos; e, finalmente, pedia a Sua Majestade que retirasse a ordem, por ser inexeqüível, e porque ele, Martim Francisco, repartiria com o irmão o seu próprio ordenado, e viveriam ambos com mais parcimônia aquele mês. Isto seria melhor do que dar ao País o funesto exemplo de se pagar ao ministro duas vezes o ordenado de um só mês.

José Bernardino de Almeida Sodré era ministro da Fazenda, em 1828. Seu colega da pasta da Guerra lhe oficiou, pedindo o pagamento das despesas de transporte, e outras, de alguns operários que o Imperador mandara engajar na Alemanha. Recusado esse pagamento, mandou D. Pedro I chamar o ministro, interpelando-o. Sodré respondeu:

— Senhor, no orçamento que vigora não tenho verba que autorize essa despesa. Ela é, portanto, ilegal, e não a posso pagar.

— Mandei engajar esses homens, e quero que as despesas sejam pagas.

— E sê-lo-ão, Senhor, já que Vossa Majestade o quer.

Dias depois, indagado pelo Monarca sobre o cumprimento da sua ordem, o ministro informou:

— Em face da lei, o Tesouro Nacional não podia pagar a esses engajados. A ordem de Vossa Majestade tinha, porém, de ser cumprida.

— E então?

— Paguei-os do meu bolso particular.

Como diz o título, qualquer semelhança com os nossos políticos será mera coincidência.