AMIGO NÃO TEM DEFEITO...

AMIGO NÃO TEM DEFEITO...

Porém, contudo, todavia, as lembranças de certos fatos e atos me trazem à memória coisas do passado. Também pudera foram sete dias na semana, trinta dias no mês e trezentos e sessenta e cinco dias no ano trabalhando. Trabalhando mais de vinte anos desses só no operacional. Gostávamos do serviço que fazíamos. Cada dia e cada noite eram diferentes. A rotina quase não existia, exceto as tardes ensolaradas de dezembro e os caldos de mocotós que tomávamos no bairro Horto, para espantar o frio das madrugadas de inverno na capital mineira.

Naquela época o trânsito era mais fácil. Os meliantes eram o Sete dedos, o Cintura fina e a Maria tomba homem. A maior parte das ocorrências policiais era na zona de meretrício, nos bairros Lagoinha e Bonfim, no qual muitos afirmam terem sido atacados por uma loura que vivia nas proximidades do cemitério local.

O meliante mais conhecido no meio policial era o Cabelinho de fogo. Esse meliante era o maior ¨puxador¨ de carros de Belo Horizonte e Região Metropolitana. Ele só furtava ou assaltava carros possantes como o dojão, o maverick e o opala. A polícia tinha a sua disposição Jeep, Volks ou Fiat. C=14 da Chevrolet era uma raridade e se destinava aos Oficiais Comandantes. Não havia moleza nem greves. Havia muito trabalho, muitos encontros operacionais. Havia tino e tiro policial. Bandido não tinha vez. E muitos camaradas tombaram no cumprimento do dever sagrado: com a própria vida para defender a sociedade mineira.

Lembro-me dos camaradas companheiros e amigos. Lembro-me dos meus comandantes e comandados. Lembro-me das lições que me ensinaram. Lembro-me dos dias felizes e dos dias tristes. Lembro-me de que a vida passa e nós passamos com ela.

Outro dia, na Academia de Letras João Guimarães Rosa, da Polícia Militar Mineira, relembrando casos contados pelos nossos comandantes um deles, ali presente e bem humorado, foi arguído por um confrade. E ele se saiu com essa: pode crer é verdade. Amigo não tem defeito... Inimigo se não tiver a gente põe... E aí seu arguidor disse e falou: mas eu era amigo... E a resposta: mas era bom de serviço... E alguém tinha que carregar o piano...

F I M.

Luiz Limagolf.