Os primeiros momentos de um prematuro

Encontrava-se em um recanto de temperatura adequada, umidade ideal, sem baralho, sons agradáveis, luz amena; absoluto conforto, rico em nutrientes e muito carinho. Não sentia dores nenhuma!

De repente não sabe o porquê tudo mudou!

Fora arrebatado desse paraíso. Começou a experimentar sensações desagradáveis:

Sentiu uma lacerante dor invadindo seu âmago,era o ar penetrando em suas narinas; uma onda de ar frio envolveu seu corpo, sua pele parecia queimar, depois petrificar diante daquele gelo.

Alguém alheio ao seu desespero colocou um tubo em sua boca, narinas e, remexia seu pequenino corpo de um lado e de outro.

Então, usou a linguagem que com certeza notariam sua luta, sua revolta; a linguagem de sinais, e começou: taquicardia, apnéia, bradicardia, gemido, cianose, taquidispnéia, às vezes um “gasping”, irritabilidade, letargia... E assim foi comunicando-se com seus sinais. E que alivio quando alguém o entendeu!

Fora colocado num local quentinho,porém não tão bem de controle térmico como o anterior, nem tão isento de barulho e luz.

Quando pensou em repousar veio alguém com mãos frias e começou uma nova tortura, agulhas perfurando suas mãozinhas, pezinhos, bracinhos; um novo tubo foi introduzido em sua boca até o estômago, que através dele um liquido branco era dado e que saciava a sensação de vazio; mas o que era ? Não saberia descrever.

Assim nessa rotina dolorosa foram dias e dias... Em alguns surgia alguém amável com voz suave, toque agradável que transmitia segurança, bem-estar. Outras horas tudo era um sofrimento só! Dura rotina de quem só podia enviar sinais dos quais deveriam ser interpretados como alterações, insatisfações, dores...

O tempo passou... Pareceu uma eternidade esse confinamento, num ambiente tão desagradável, embora de grande importância a sua sobrevivência.

Eis que um belo dia fora acolhido por braços tão conhecidos, que quase era um sonho. Sentiu tão seguro e confortável que pensou estar de volta ao seu remoto paraíso.

Finalmente estava ao doce regaço materno.