Retrospectiva 2011

Retrospectiva 2011

Ontem, assisti à Retrospectiva 2011 pela televisão. Engraçado como as cenas que se repetem diante de nossos olhos, de repente parecem tão distantes do agora, mesmo que tenham acontecido há tão pouco tempo. Esse ano, foi um ano de fúria, de mudanças, de decepções e dor para muita gente. Como todos os outros, mas o reflexo desse está mais próximo, por isso dói mais. A diferença com os outros, principalmente os mais distantes, é que o homem está ficando mais solidário, está se envolvendo mais com o sofrimento dos outros, quando este é grande demais. A televisão, responsável por banalizar a dor e a tragédia diante dos nossos olhos, também é o elo que envolve as pessoas do mundo inteiro, quando a desgraça se abate sem avisar em algum lugar. A onda gigante que arrasou o Japão causou comoção e preocupação para o mundo inteiro, diante da possível contaminação nuclear anunciada após o sufoco das usinas atômicas, agredidas com força pela natureza implacável. O que ficou marcado para o mundo após a destruição, foi o exemplo de integridade das autoridades japonesas, devolvendo o dinheiro recebido para a recuperação das cidades, uma vez que a ajuda recebida ultrapassava ao limite necessário para as obras. Imaginem se fosse no Brasil. Aqui, tivemos uma avalanche em proporções menores, na região serrana do Rio de Janeiro, onde as enchentes praticamente destruíram algumas cidades, que também receberam ajuda governamental. Mas ao contrário do povo japonês, o digníssimo prefeito de uma delas, simplesmente colocou a ajuda humanitária no bolso e fugiu sem deixar endereço. Tudo é uma questão de princípios, de caráter, que existe de sobra no Japão e que infelizmente, tem chegado pouco ao Brasil, principalmente no cenário político. Aliás, quando se fala em política, já ficou maçante questionar imoralidade, corrupção e a vergonha, que viraram uma prática comum nesse cenário, tão banais quanto a violência e a brutalidade nos países quase bárbaros no resto do mundo, onde os ditadores agora começam a provar do veneno do ódio que eles mesmo semearam... Osama Bin Laden apagado, Kadhafi massacrado, ditaduras derrubadas, levantes de fúria derrubando o poder em busca do sonho de liberdade, nascem como uma corrente ideológica nesse ano, que acredito, será marcante na história do mundo.

No Brasil, a incoerência da segurança nacional começa a mostrar a cara, quando a podridão é detectada dentro da própria polícia, que mata juízes para ocultar a corrupção que se esconde detrás de fardas e distintivos, que mantém milícias, que protegem os bandidos e a banda podre da sociedade, que usa a pobreza como escudo para encobrir a riqueza adquirida com as drogas, com o crime e a bandidagem. A lavagem de dinheiro tem usado escolas de samba, empresas e comércios de fachada, para manter a mordomia do dinheiro fácil, escondido em esgotos, juntamente com as armas capazes de silenciar quem atravessa o caminho e ameaça os esquemas armados entre policiais e bandidos da mesma estirpe. Vimos o retrato em preto e branco dessa sujeira na desocupação das favelas no Rio de Janeiro, onde o tráfico tinha guarida da própria polícia para facilitar o crime. Tinha e tem, só iremos ter uma pequena trégua até que os interesses políticos se desviem para outro foco, e aí tudo começa de novo. Enquanto isso, a gangorra dos ministros vai no mesmo ritmo, onde de vez em quando cai mais um; a Câmara continua com os golpes sujos e trapaças na hora da aprovação das leis que deveriam moralizar, mas que envergonham o país, como a Lei da Ficha Limpa, engavetada covardemente em silêncio para não prejudicar nenhum de nossos digníssimos parlamentares; os impostos sobem, para garantir os privilégios de quem tem o jogo político nas mãos e cresce o sufoco dos brasileiros para pagar os tributos para manter os benefícios de direito.

Infelizmente, no Brasil é assim: o povo não acompanha os passos que os políticos dão para consolidar o interesse coletivo, e as mudanças previstas em lei são aprovadas à sua revelia. Não temos uma sociedade politizada o suficiente para entender que poucos são aqueles que legislam em prol da sociedade, a maioria busca benefícios próprios, enriquecimento rápido na carreira política, uma vez que essa abre os braços para a apropriação indébita do dinheiro público que tomam como seu, uma vez que a envergadura da imunidade parlamentar está muito bem costurada nos fios que trajam nossos ilustres representantes. Ver uma retrospectiva que só mostra desgraças, vergonha e podridão no final do ano, nos embrulha o estômago, mas também nos faz respirar de alívio por vê-lo acabado. Vamos preparar o espírito para o que nos espera nesse outro que começa... apesar de saber que o cenário é o mesmo!...

maria do rosario bessas
Enviado por maria do rosario bessas em 31/12/2011
Código do texto: T3415879