Fechado para balanço

O comércio costuma fechar as portas ao final do ano para contabilizar lucros e perdas, avaliar o estoque e arrumar a casa. Organizar-se para uma nova etapa é uma necessidade de quem gosta de ver as coisas em ordem. A gente deveria fazer a mesma coisa. Deveríamos parar para ver o que a vida nos ofereceu, contabilizar os sorrisos, as lágrimas, os encontros, os desencontros, os sonhos alcançados e os enterrados, as glórias e decepções que inevitavelmente todos temos. Infelizmente vamos vivendo como uma avalanche, passando por cima de tudo, sem parar para pensar se estamos no caminho certo, se não esbarramos em ninguém no percurso, se causamos avarias em alguém, se deixamos saudade ou se simplesmente passamos em branco pelo caminho. Vamos seguindo assim, com os olhos voltados para o brilho do amanhã que nos chama, com os braços abertos para os desejos que inventamos, com os pés apressados para alcançar o barranco e sentar-se tranqüilos, à sombra do merecido repouso que criamos na nossa imaginação. Mas nem sempre pegamos o caminho ou o compasso certo e nem sempre o barranco está lá, nos esperando. Esquecemos de parar para acertar a rota, para equilibrar o peso e a vida às vezes nos pega de surpresa no meio do caminho. Quando vamos ver, corremos o ano inteiro em busca de nada. Ou pelo menos, o que encontramos no final da jornada, não era aquilo que a gente sonhava em ter. Só então percebemos que faltou planejar, avaliar com equilíbrio os nossos investimentos nos sonhos e esperanças. E então chega a hora de pagar as contas... para nós mesmos. Muitas vezes temos que pedir um desconto ao coração, para não nos cobrar tão caro a dor pela indiferença, pelo egoísmo, pela ganância e tantos outros deslizes dessas almas que ficam pequenas de vez em quando. E o coitado, dá um aperto de lá, outro de cá e no final, a gente mesmo se perdoa, prometendo mudar no ano que vem. Saímos com o cheque em branco, com a fatura do cartão de crédito zerada, prontos para aprontar de novo. Se fizermos o balanço direitinho, pode ser até que nosso estoque aumente bastante no ano que começa, que os lucros arrebentem em sorrisos de alegria e que o sucesso nos leve para o topo dos grandes investidores da essência humana. Sem medo algum de enfrentar o leão do imposto de renda, com restituição de tudo aquilo que depositamos em nome da dignidade e do amor entre os homens... Aí poderemos ter um ano realmente de paz, muita paz!...

maria do rosario bessas
Enviado por maria do rosario bessas em 31/12/2011
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