Escrever é preciso...

Início de tarde o calor vibra o asfalto na retina dos meus olhos. Em plena Praça do Terminal Central de Integração uma tenda armada avisa que algo vai acontecer por ali! A multidão desacelera os passos, curiosa! Cartazes espalham a notícia da escrita voluntária. Algumas pessoas formam fila.

A população passa ao meu lado numa correria sem fim. Encontro com as minhas amigas e nos abraçamos em um gesto de afetividade. Um cartaz colado no pilar da barraca armada em um canto da praça anuncia:

“Venha escrever o seu cartão de natal com as “Voluntárias da Escrita””.

Em outro cartaz, mais adiante, o anúncio dizia: “Os cartões são distribuídos gratuitamente!”, e, estava assinado pelas “Amantes da Literatura!”

Sentamos e espalhamos os cartões de natal pelas mesas. Ao meu lado a Maria Lúcia recorta motivos natalinos para a confecção de mais cartões. Começamos a receber com carinho as pessoas para a escrita das mensagens natalinas.

Para que possamos entender melhor toda essa movimentação no TCI é preciso voltar um pouco ao tempo, e contar sobre, uma sugestão da escritora Leda Coletti para movimentar ainda mais o grupo de amigas e amantes da escrita e da leitura, neste final do ano. Leda sugeriu ao grupo uns dias livres na semana de Dezembro para escrever mensagens natalinas, de alegria, amor e paz para analfabetos, ou, para aquelas pessoas que não mais podem escrever com problemas de visão, nas mãos, ou, qualquer outro caso. O nome do grupo das voluntárias da escrita ficou muito interessante: Amantes da Literatura!

A escrita aconteceu entre os dias 20 e 22 de Dezembro. Oito voluntárias fizeram rodízio entre manhã e tarde no Terminal Central de Integração, mais de 300 cartões foram feitos e escritos por todas. Este gesto simples proporcionou um retorno imensurável em alegria, emoção e motivação para todas. Cartões foram escritos para crianças, jovens, idosos, moradores de rua, e, enquanto, a escrita ia desvelando sentimentos, a pessoa atendida contava a história da sua vida. Alguns estão longe de casa, e, contam ter uma saudade dolorida pela falta dos entes queridos, outros procuram reconciliação, mães declaram amor aos filhos distantes... Emoção foi à palavra chave no coração de cada uma das voluntárias!

O Natal foi comemorado da melhor maneira entre amigos distribuindo e recebendo amor, atenção, solidariedade..., mergulhados em cada gesto, em cada palavra, em cada coração.