Saudades da infância

Tem coisas na vida da gente para a qual nem sempre damos o valor. Um dia destes estava recordando da minha infância e do que fazíamos quando crianças. Posso dizer que fazíamos coisas que muito jovem de hoje nem ouviu falar.

Afinal para quem não me conhece tenho 56 anos, sou carioca, mas considero Volta Redonda, como minha cidade de coração. Jornalista, trabalho como assessor de imprensa de uma grande instituição de ensino e, nas horas que me sobram, escrevo.

Confesso que a grande maioria dos textos só tem um leitor: eu mesmo. Mas, alguns como este não.

Mas , voltemos a minha infância. Morava com meus pais no Rio, em Copacabana e a cada 15 dias, às vezes para minha alegria, uma vez por semana, pegávamos o fusca vermelho de meu pai, placa 159197 e íamos para casa de meu tio Luiz e da minha Ethel, primeiro em Santíssimo e depois em Campo Grande.

É sobre esta casa que eu quero falar.

Meu tio depois de muitos anos morando numa chácara em Santíssimo, saiu de lá, para desgosto de todos, e foi morar em uma casa – que hoje não existe mais e virou rodoviária, bem no centro de Campo Grande.

Era uma casa amarela, salvo engano, com um grande flamboyant amarelo na frente, ou seria um ipê, uma varanda para lá de pequena e um jardim. Ao entrarmos na casa encontrávamos a sala, os quartos e um corredor que nos levava ao banheiro e a cozinha. Ah! a cozinha. Era lá que tudo começava.

Chegava, passava pela sala, falava com meu tio, beijava minha querida Tia Ethel, que está ai para confirmar a história e quase sempre estava no fogão, e, junto com alguns dos meus primos descíamos os degraus que dava para o quintal.

Não era um grande quintal, mas era o nosso quintal. Eu, Rosa Beatriz, Roseana e mais uma penca de primos. Sabe o que fazíamos? Bem talvez você não vá acreditar, mas ficávamos conversando com a amiga da minha prima no muro que dava divisa da casa com a casa de uma amiga da minha prima.

Não lembro o nome desta moça, que hoje deve ser uma senhora, mas lembro do quintal dela cheio de árvores frutíferas que não acabavam mais. Era papo para mais de hora. Com um detalhe: os personagens não tinham mais de 15 anos.

Hoje, se fosse contar esta historia para minhas netas, elas ririam de mim. Afinal, pensarão, será que não havia outros meios de conversar e se divertir. Haver, na verdade havia, mas nada igual ao que fazíamos. Podíamos sair, dar a volta na casa e chegarmos a casa desta moça. Mas iria perder a graça que estava nesta conversa no muro.

O tempo passou. Hoje tenho uma grande saudade não só daquele muro que apenas existe na minha memória, mas dos momentos felizes que vivi. Momentos estes, que às vezes me ajudam a cumprir a trajetória que Deus me deu.

Tenho pena daqueles que não possuem uma memória, uma saudade, para ajudá-los a superar os momentos difíceis que passamos em nossa vida. Eu, graças a Deus, posso afirmar que fui e sou feliz.

Até a próxima!