''BRIGADEIRA'' DE CRIANÇA
De: Ysolda Cabral
 
 
 
Por mais que mamãe dissesse para não sair de casa, eu sempre dava um jeito de fugir para brincar na rua com a criançada da vizinhança. Como sempre fui dada a inventar novas brincadeiras, era normal que eu liderasse o grupo. Isso causava certa inveja (principalmente nas meninas) e as brincadeiras acabavam em ''brigadeira''   ‘’Doscontra’’ com os  ‘’Afavor’’.
 
Eu voltava para casa chateada, me sentindo culpada ou me recriminando por não ter revidado as agressões verbais e até mesmo alguns empurrões, assumindo que ''podia''.
 
Tanto na rua como no colégio, isso acontecia.
 
Mas, como sempre fui uma completa idiota, desprovida de qualquer sentimento de revide, ambição, vaidade, ou qualquer coisa que o valha; esses fatos me entristeciam, mas logo passavam e eu voltava feliz às brincadeiras ou ''brigadeiras''. 
 
Um dia resolvi entrar na briga na base da cantoria.
 
E comecei em tom altíssimo...
 
Ta falando de mim
Eu quem me importa
Bata a cara na porta
Até ficar torta. 
 
A turma '' Afavor'' puxava o  refrão...
 
Ô cara torta, queremos torta e é agora...  Torta, torta, torta...
 
Como sempre do meu lado estava o ''Cabeção'', o contra-ataque veio rápido e de maneira muito baixa da ''chefe'' da turma '' Doscontra''...
 
''Cabecinha daleluia que papai bejô
Tomou tanta cachaça que a cabeça  inchou 
 
Xô, xô, xô...   Ô cabeça grande meu senhor!! ''
 
- De bom grado concedi a vez ao Cabeção e ele caprichou cego de raiva:
 
''Você tem cara de macaca
E tararará
E é muito fedorenta
E tarará
Toma banho de ano em ano
E tarará
E não usa sabonete
E tarará
 
Ai meu Deus que coisa feia
E tararará... ''
 
De repente, estávamos todos cercados pelos nossos pais...
 
Nem preciso contar como tudo terminou.
 
Hoje fico a refletir, será que não fomos nós que inventamos o ''funk'' que a modernidade deturpou? Hahahahahaha