Um punhado de bem, um punhado de mal
 
O araçazeiro é uma árvore pequena tipo arbusto, nativa e muito conhecida no Brasil. Suas folhas são inteiras, resistentes e podem ser utilizadas como chá para melhorar diarréias e hemorragias. Suas flores são brancas e muito visitadas por coletores de pólen. Seus frutos, os araçás ( frutas que tem olhos),  geralmente são redondos, mas variam no tamanho e na cor da casca e da polpa (branca, amarela, esverdeada e avermelhada), que é suculenta, aromática e adocicada.      É consumido “in natura” ou usado no preparo de sorvetes e refrescos e também de um doce muito parecido com a goiabada.  MYRTACEAE – Psidium sp.Fonte :  www.florestaaguadonorte.com.br
 


 
“A menina que roubava livros”  encanta-me pelas passagens simples vivenciadas por ela, mas colocadas  em letras de maneira espetacular. Quando ela e os amigos descobriram a plantação de maçãs – e com isso matariam a fome – fiquei imaginando a sensação de ter que  devorar uma por uma antes de voltar para casa, para que sua mãe não descobrisse a arte. Depois, já em casa e passando mal, ela se divertia apenas de lembrar como era o gosto das maçãs maduras.

Outra parte do livro me fez dar boas gargalhadas, quando ela e o amigo acham uma moeda no chão, entram na loja de doces e pedem, solenemente, um punhado de balas.  Receberam apenas uma, mas nem por isso deixaram de dividi-la – dez vezes em sua boca e dez vezes na boca do amigo, até que a bala inteira desaparecesse, sem mastigar. Perfeito! Isso é que é partilha.



Nunca precisei pular cercas para comer araçás, os meus preferidos. As frutinhas não precisavam ser maduras demais ou verdes demais. Era um prazer enorme fazer uma sacola do vestidinho sujo, encher de araçás e ir comendo todos, sem lavá-los. Na minha meninice não era necessário tomar os cuidados de limpeza de alimentos, porque eu nem sabia o que era agrotóxico.

A única coisa que me importava era que nossos pais nos deixavam ir até os campos de São Lourenço, em Santa Teresa-ES– Amo o lugar com força! – e aproveitar as estações de frutas na casa dos tios Martinelli. Lima, laranja, mexerica, jabuticaba, uvas, fruta-pão, goiabas e araçás. O legal do araçá era que ele não era plantado. Tanto as arvores pequenas quanto as grandes, geralmente nascidas nas encostas dos morros, davam frutos deliciosos.




Hoje posso imaginar que não era apenas um presente de Deus, mas talvez possam ter sido os passarinhos que levavam as sementes mais novinhas das goiabeiras e as espalhavam pelos pastos, para aumentar e garantir os seus alimentos, muito fartos.

Um punhado de bem e um punhado de mal...

Gosto de carregar comigo tudo que fiz de bom e esquecer atitudes de “mal”, imputadas na vida, por centenas de vezes sem que tenha sequer entendido o que era mal. Talvez seja por isso que muitas pessoas não gostam de abandonar sua terra e enfrentar a cidade grande. Nas cidades pequenas todos se conhecem e a ajuda é mútua, a alegria e a tristeza são partilhadas na mesma proporção.


Na cidade grande, os bairros tentam, timidamente, imitar as cidadezinhas, mas apenas alguns conseguem manter o nível de colaboração, amizade e brincadeiras. O que eu sei é que, de trinta e dois apartamentos, consegue-se ouvir alguns sons, quando estamos à espera do elevador. Uma torneira que se abre, uma chave tetra assustando meu pensamento calmo. “Bom dia”, que é bom, nem pensar.



Enquanto eu tiver araçá (nunca vi doce de araçás) para relembrar, livros lindíssimos para ler com amor, respeito pelos que de mim precisam, remendos em supostos erros do passado, filmes que me transportam a príncipes de mentirinha, vou vivendo, esperando ansiosamente que o pé de acerola de minha varandinha cresça feliz, sem que Nina tenha que brincar com suas poucas folhas.
 
Ilustrações Google
Domingo de sol lindo! Vou deixá-lo entrar!



 

 (Olivia, minha sobrinha)

Sunny L (Sonia Landrith)
Enviado por Sunny L (Sonia Landrith) em 15/01/2012
Reeditado em 28/03/2012
Código do texto: T3441776