Depois da bonança a tempestade

O homem passou por mim dá um largo sorriso e acena. Fico pensando de onde o conheço. Súbito a memória me ajuda, a história se completa.

Tarde de céu azul, o calor atravessa o corpo e transfigura a inquietação na alma. Estou sentada com mais duas amigas escrevendo cartões de natal para as pessoas com pouca ou nenhuma escolaridade, ou, para aquelas pessoas que não mais podem escrever com problemas de visão, nas mãos, ou, qualquer outro motivo.

Esse senhor alto chega mancando, senta a minha frente e pede para eu escrever um cartão para o seu patrão. Ele me conta que é morador de rua, e gostaria de presentear o moço que sempre lhe oferece ajuda, e, como não é ingrato faz pequenos serviços para ele.

Após escrever o cartão me agradece. Olha nos meus olhos e fala:

“A senhora sabe o nome da nossa presidenta?”

“Sei! Presidente Dilma.”

“Mas, a senhora sabe o nome completo?”

“Dilma Rousseff?

“A senhora se parece muito com ela!”

Logo a seguir bastante confuso me diz:

“Presidenta estou gostando da faxina que a senhora está fazendo. Parabéns! Olha à senhora vai se reeleger. Meu voto é seu! E prometo o voto de todos os moradores de rua. E, se eu descobrir que algum deles não vai votar na senhora eu quebro o seu pescoço.”

Ponderei com ele para não usar de violência. Percebi a mudança radical que aconteceu com ele. A aparente calma escondia uma personalidade atormentada.