A última noite do mundo

Na última noite do mundo enquanto todos corriam de um lado para o outro tentando salvar suas vidas, jamais tinha visto um céu tão estrelado. Quantas vezes esse céu se abriu e os olhos fugiram dele. E assim todos os momentos passam pela mente e o interessante é que os mais simples foram os melhores. Talvez a simplicidade tivesse evitado a nossa chegada a esse estagio. Hoje pessoas por toda a terra apenas reprisaram nas horas trágicas de destruição, tudo aquilo que vinham praticando. Houveram milhares de mortes, de maneiras impossíveis de serem descritas.

Por um instante houve silêncio. Televisões fora do ar, internet sem acessos, máquinas fotográficas abandonadas, apenas silêncio. Somente não era completamente escuro por causa da imensa lua. Quando voltavam essas coisas da qual nos tornamos reféns, o transtorno retornava e podia ouvir alguns querendo saber sobre a queda de um avião, um navio afundado e a onda gigante. Avistei Igrejas lotadas, gritos, loucuras, todos tentando de alguma forma buscar sua salvação. Apenas chorei, algumas gotas que restavam quando uma criança aos berros perdida no meio da multidão soluçava pedindo por sua mãe. O que fizemos com o mundo, qual direito tivemos de impedir aos pequenos um lugar para viver? Aquela jovem criança queria um colo afetuoso de sua mãe sem saber que tudo estava terminando.

E quantos homens de diversas gerações passaram sobre a terra nas diversas línguas deixando avisos que estávamos caminhando por uma estrada sem volta. Quando tínhamos em abundância, repartir era um gesto raro, imagina agora, onde um doutor e um mendigo eram iguais ao tentar sobreviver. Talvez a caridade e o amor ao próximo não tivessem deixado o coração endurecer. Avistamos tanta maldade, tanta ganância. Que é feliz quem possui muito que fomos nos tornando robôs capazes apenas de sentir as coisas doloridas que nos tocavam e incapazes de gerar mudanças. Fizemos da religião um comercio, e até para receber fé, tínhamos um preço. E como poderíamos então esperar o amor brotar em uma humanidade onde até Deus era vendido.

Fizemos e vimos tantas atrocidades. Inventamos drogas para fugir da realidade e provocamos dor para sentir que estávamos vivos. A individualidade foi o começo de nossa destruição. Para levantar uma rocha é preciso de vários braços. E finalmente chegamos ao nosso fim. E em todo o universo toca uma canção linda e triste e enquanto o mundo acaba fico olhando para a estrela e perguntando por que perdemos o nosso brilho, o sentido da vida e de estarmos todos juntos aqui.