O DELEGADO E UMA VACA EM APUROS.

Em meu tempo de delegado federal, certo dia ao transitar de carro por uma estradinha em direção a o sítio de um amigo, vi uma vaca embaraçada numa cerca de arame farpado. Fiquei preocupado.

Como sempre ocorria, eu não gostava de ver animais em sofrimento, pelo que imediatamente propus-me pegar um alicate das ferramentas que sempre tinha no carro, e cortar, pelo menos os dois fios centrais, pois pelo que me parecia, ela se embaraçara neles.

De posse da ferramenta dirigi-me para a cerca, próximo da rês, que a meu ver estava em apuros; havia até se machucado nas farpas de arame, pois escorria sangue ao longo de suas patas dianteiras.

Quando me aproximei, ela pareceu ficar mais estressada ainda. Tomei cuidado para ficar próximo de um mourão esticador, pois caso ela ficasse livre poderia vir em cima de mim. Não deu outra! Assim que cortei um dos fios que a prendera, vendo-se livre veio em minha direção como a querer desforrar em mim a dor que estava sentindo pelos cortes do arame. Protegi-me atrás do esticador, falando com ela, dizendo:

-Calma vaquinha, eu quis lhe fazer bem, e agora vens com esses chifres pontiagudos contra mim; vê se compreende, e vá comer seu capim em paz!

Por instantes ela pareceu me entender, balançou o rabo nervosamente, deu meia volta e subiu pelo pasto afora. Naquele momento ouvi alguém gritando, vindo de um ponto abaixo:

-Ei cara! você cortou o arame, trate de emendá-lo, afinal não seria necessário, ela se arrumaria!

-Como, Amigo? A vaca estava presa, já sangrando nas patas, e o senhor vem falar-me que não seria preciso. Acho que o Sr. não gosta de animais.

-Trate de consertar a cerca, e não queira se meter no que não te pertence!

Cuidadosamente, e em silêncio, procurei consertar a cerca, (trabalho que eu iria realmente fazer) pensando na falta de educação de certos indivíduos. Nem a vaca, sem entendimento humano, fora tão malcriada para comigo, embora estivesse nervosíssima, pois ao som de minhas palavras fora-se dali como que agradecida.

Ao chegar em meu destino, que era ali por perto, enquanto aguardava meu amigo fazendeiro que não se encontrava na residência, alguém dissera para o sitiante mal educado que eu era delegado da polícia federal, talvez por isso me vira na obrigação de desprender o animal.

Nos momentos subseqüentes, estando já na sede da fazenda do meu amigo, recebemos a visita do vizinho. Fora pedir-me desculpas pelas palavras agressivas a mim dirigidas com respeito ao corte da cerca. Meu amigo o censurou, falando-lhe que qualquer pessoa teria o dever soltar o animal, já que estava preso de forma brutal numa cerca mal feita.

Diante da humilhação dele acabamos ficando amigos. Expliquei a ele, na presença do meu amigo fazendeiro, que todos nós temos o dever de cuidar dos animais, das plantas, enfim, é nossa obrigação, já que temos uma inteligência, preservar e cuidar de tudo que se relaciona à proteger a vida!