Sem chance!

Voltava pra casa, após um dia daqueles em que uma terrível dor de cabeça tentava acabar comigo. Ao subir no ônibus dei de cara com um suposto fã. “Nossa, que sorte a minha! Você, nesse ônibus?” Falou eufórico, com um largo sorriso, o que poderia me fazer sentir a pessoa mais importante do mundo, mas não. Muito “simpática” (quem me conhece sabe), fiz parecer que não tinha entendido.

Seguimos viagem, eu com os olhos voltados para a janela. “E aí, tudo bem? Como é que você está?” Tentando sorrir (juro!), respondi que estava com um pouco de dor de cabeça. Perguntou-me como estavam as meninas. “As meninas”, o velho golpe, pensei. É claro que ele não está interessado no bem-estar das minhas filhas, sei bem o que ele quer. Tive o pensamento interrompido. “Sempre a observei e vi que você deu uma mudada, está mais bonita!” Desejei a morte, mesmo me achando boba, afinal qual o problema em alguém me achar bonita? Com um sorriso amarelo, agradeci, e ele completou: “se eu já a admirava, agora o farei ainda mais.”

Que viagem longa! E ele, puxando assunto: “você tem um sorriso tão bonito, devia sorrir mais!” Perguntou meu nome. Respondi, e ele continuou: “Fale-me um pouco de você!” Falar de mim? Melhor não! Sou chata, complicada, confusa... desconfio de tudo! Pra quem não queria, falei além da conta. “Mora com seus pais?” Imagine se eu fosse simpática! “Você sempre sai, ou é difícil?” Antes que fechasse a boca, respondi: É difícil!

“Quantos anos você tem?” Disparei: trinta e cinco! Mostrando espanto e admiração, ele disse que eu estava muito bem, que aparentava bem menos. Gostei dessa parte, mas o pensamento me dizia pra não cair nessa.

Continuando a conversa (cretina), ele pediu que eu adivinhasse sua idade. Jura? Detesto essas coisas! Expliquei-lhe que era péssima nisso e, sem insistir, ele declarou que dali a alguns dias faria quarenta. Fiquei feliz em não ter arriscado um palpite.

“Você é carinhosa?” Perguntinha mais ou menos, hein? Respondi dizendo que também era romântica e sonhadora... e que homem nenhum me suportaria. Não precisava exagerar tanto, podia deixar que me percebessem, foi o que disse a mim mesma.

“Era uma pessoa assim que eu queria.” Ele deve estar brincando! Mas, lendo meu pensamento, disse: “se eu já a admirava, imagine agora, conhecendo a cabeça que você tem!”

Em meu silêncio eu o interrogava: “E você, mora com quem? Tem filhos?” E, se a resposta fosse negativa: “E o que fez todo esse tempo? Por que está sozinho? O que há de errado com você?” Mas, me contive, principalmente pelo fato de também estar sozinha.

E o diálogo sem fim, continuava: “Não quero que pense que estou dando em cima de você. Se quero alguém, sou muito direto, acredite! Você é um tipo que me agrada, mas está além do meu alcance, e merece coisa muito melhor.”

Como assim, “coisa melhor”? Ah, jura? E lá se foi outro, com a desculpa de sempre.

Maria Celça
Enviado por Maria Celça em 26/01/2012
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