Primeira crônica

Deixo tudo para trás – desligo a TV, esqueço a internet e escondo o telefone. Pego então, uma caneta de tinta azul e um caderno surrado sem dono.

No silêncio que me invade e nos sentimentos que me distraem, recolho-me para dentro de mim mesma, na tentativa avassaladora de extrair palavras para esta crônica.

Debruçada sobre a mesa da varanda escuto o ronco longínquo dos motores de carros, que cruzam a cidade. No jardim grilos cricrilam, sapos coaxam, no céu, relâmpagos iluminam a morada dos anjos. E aviões desaparecem no horizonte que se projeta diante dos meus olhos.

No cintilar das estrelas, a noite se torna mais poética, mais viva, mais serena e o meu coração mais sensível, quando observo as luzes que iluminam as ruas.

Sirenes, buzinas, vozes perdidas – a trilha sonora noturna ecoa em meus ouvidos. Rascunho frases, busco palavras para compor esta crônica. Porém, as palavras não transbordam no papel. Elas apenas caem gota a gota, justamente, para eu poder colocá-las em seus devidos lugares, sem medo e sem pressa.

É assim que pensei na minha primeira crônica – que ela fosse desprovida de qualquer assunto político, econômico e social. Mas farta de lirismo, amor e paz. Uma crônica que possa fazer meu leitor sorrir ou chorar e, esquecer das corrupções e enganos que atormentam o nosso coração. Uma crônica singela, sem palavras buriladas ou difíceis de serem encontradas nos dicionários.

Parece complicado cerrar os olhos para a nossa realidade. No entanto, algumas vezes, as palavras são escritas e ditas para sonharmos, mesmo que durante alguns minutos, dias ou horas.

Fecho meu caderno. Já não tenho mais o que escrever. Respiro fundo, estico meus braços, levanto-me da cadeira, esquadrinho o céu e as suas jóias. Nuvens ruborizadas visitam o espaço celestial.

Quero deixar minhas palavras soltas, livres como pássaros selvagens. Não quero dominá-las. Desejo apenas que elas alcancem o voo mais alto e perfeito. E que o vento, mesmo que mansamente, possa soprá-las para o Norte ou para o Sul.

E até quem sabe, elas não cruzem os meridianos, atravessem os oceanos e mares. Derrubem fortalezas, conquistem novos mundos e corações saltitantes e desejosos para viver.

Mayanna Davila Velame
Enviado por Mayanna Davila Velame em 28/01/2012
Código do texto: T3467419
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