A CURA DE UMA VACA

Numa conversa com um amigo sitiante, por nome Galileu, ele me contou um assunto que achei interessante: Era sobre uma vaca de sua estima:

-Há uns dois anos atrás ela se empazinou com fermentação de mandioca; foi inchando tanto que pensei que explodiria de uma hora para outra. Sem maiores recursos,a solução seria ser eu mesmo fazer nela uma operação. Encorajado pela vontade vê-la curada, propus-me abrir um corte aqui, ó - mostrava na barriga do animal um ponto mais fundo - cortei o couro, o véu que é uma camada de proteção resistente, por fim o bucho. Eu não esperava, mas pareceu um pneu quando estoura. Aquilo sujou todo meu rosto e quase me afogou.

-Deste-lhe anestesia? - perguntei-lhe.

-Nada. Ela estava tão mal que deitara no pasto e há dias não se movia. Consegui fazer uma boa limpeza no bucho, retirando o que espalhara dentro da barriga, depois costurei os cortes que eu fizera, deixando-a inerte onde estava. Em meus pensamentos a considerava perdida: Iria preparar uma maneira de fazer sabão com sua gordura. Entretanto no dia seguinte ela se levantou, foi aos poucos se recuperando, contudo ainda necessitei retocar a costura, pois começou a sair estrume no local; o véu abrira e com ele o couro. Telefonando para um veterinário ele me encorajou a fazer nova costura, o que fiz, mesmo achando que o caso era perdido. Uma coisa eu fazia: clamava a Deus em oração; já que das três que eu possuía era melhor vaca leiteira. Deus foi bom para nós; na verdade eu fiz minha parte, mas se não fosse a mão do Senhor, creio que a vaca não sobreviveria.

-Caramba! Foi Deus mesmo! A coragem e a direção que Ele te deu foi providencial - falei admirado

-Graças a Deus, aí está, tem mais saúde do que antes - dizia Galileu - venham, vamos entrar e tomar um café.

Escrevi o fato para ter na lembrança a capacidade e coragem de um sitiante do sertão Veredas, lá no norte de Minas.