O MAIOR BRASILEIRO

O conhecido Sistema Brasileiro de Televisão / SBT, do não menos afamado Sílvio Santos, anda com a conversa de que está a eleger, no momento, o maior brasileiro de todos os tempos. Uma coisa fantástica e inusitada, esse concurso. Um dia, para a jactância nacional, diremos: “– É mesmo para inglês ver, mas elegemos o maior brasileiro de todos os tempos!”

Pelas medidas usuais, empregadas pela biometria, não quero crer que seja tarefa tão difícil mensurar peso e altura de um ser humano. É só você sair por aí medindo, um a um, os gajos mais avolumados, até acertar em algum do tipo galalau que frequenta as academias de musculação ou que pratica o desporto do vôlei.

A votação da citada disputa está em aberto, na Internet, e quem quiser arriscar a parada que se habilite a empunhar a bandeira do seu valioso voto. Quem sabe, a prática sirva de lição para, nas eleições vindouras, não botarem o voto a perder, na lata do lixo.

Esse atual certame, no Brasil, segundo o próprio SBT, já teve similar, tempos atrás, na Inglaterra. Lá, o fato se deu com o aval da poderosa BBC de Londres. E a coisa, aqui, calha muito bem, pois o brasileiro é deveras caído por uma imitação.

Ainda não dei o meu voto, nem peguei o bonde do tal ‘site’ da competição, mas, com certeza, vou exercitar meu voto, numa boa. Farei isto antes que a promoção eleitoral se acabe. Hei de coçar os miolos, para votar no melhor, conforme a minha estrábica visão. Contudo, sei que vou acertar na mosca.

Espero não desperdiçar o meu modesto sufrágio em algum político, ditador ou muito menos em jogador de futebol. Vá lá que seja em algum cantor das antigas, vindo até em Elis Regina; menos nas três categorias citadas acima. Recapitulando: político, ditador e jogador de futebol.

Desses todos aí, portanto e exclusive, ainda tiro o chapéu para meia dúzia de grandes cantores e cantoras que abrilhantaram a ribalta nacional. Mau gosto meu? Ah, pois então diga lá, meu, você um dia já ouviu tocar no rádio um Vicente Celestino, Dalva de Oliveira, Orlando Silva, Sílvio Caldas? Sei que não. Nunca ouviu nem vai ouvir falarem no nome de algum desses.

Mas como tocar em político e meter ditador pelo meio? Ora, para que você aí não troque as bolas, vou explicar direito: mesmo não prestando, político é sempre um político; ao passo que ditador não é e jamais será coisíssima nenhuma.

Como fez a Inglaterra, patrício meu, elegendo o seu maioral de todos os tempos, vamos eleger também o nosso maior brasileiro de todos os tempos? Agora, por favor, não vote ruim, de brincadeirinha, não. Votar em jogador de futebol, por exemplo, ou em ator ou atriz de novela é votar pelas ventas da mídia. É voto de faz de conta.

Futebol e novela fazem bem a todos, no sentido mais amplo possível, fazem? Se fizerem, então você vota no topete do Neimar, ou na ruindade da Teresa Cristina, a personagem que ouço falar que seja da grande atriz Cristiane Torloni.

Posso estar redondamente enganado: futebol e novela não se inserem nas coisas que se possam dizer coisas do e para o bem-comum. Abrindo o arco aos 360º, bem que poderia dar meu voto para o Machado de Assis, ou para um José de Alencar, Carlos Drummond, Jorge Amado. Só que todo mundo consome literatura, hein? Eles foram fábricas de criatividade, mas não serviam para todos. Infelizmente devemos andar a uns 70% de iliteratos.

Que tal eu eleger Oswaldo Cruz ou Carlos Chagas, que se notabilizaram em prol da Saúde? E, na Educação, se eu votar Paulo Freire, na cabeça, o que você me diz? Não seria de todo ruim qualquer um desses nomes, ãh? Ou que tal votarmos num líder espiritual ou religioso, gente abnegada, homem ou mulher? Talvez no padre Cícero, o “Meu Padim”; então no Dom Hélder Câmara, no Chico Xavier ou na Irmã Dulce.

Entretanto, ainda que me considere pela metade um cristão, eu não escolherei esses líderes espirituais, porque não sou religioso. E, se fizesse qualquer uma dessas opções, ateus e evangélicos, os camaradas socialistas e comunistas, além dos anarquistas, eles iriam cair de pau sobre os meus costados. Todos esses iriam pegar no meu pé. “Ai, mas você é um carola!” – e coisa e tal.

Sem prevenção alguma contra aquele “ídolo” que atualmente faz um baita sucesso, nas paradas musicais, e fatura até popularidade mundial, não votarei na genialidade desse tal do “Ai, se eu te pego!” Não lhe decorei o nome, porém nem me interesso por decliná-lo. Apenas me consta que é certo um que canta e encanta. Só que não ouvi dele a lindeza de “música”, e também não gostei. Assim, não voto no gajo. De jeito nenhum.

Darei meu voto mesmo é à ‘démodé’. Faço fé em Alberto Santos Dumont, que se não teve a genialidade do “Ai, se eu te pego!”, ao menos inventou um mísero avião. Em tese, o avião ficou para o bem-comum. O ianque que estourou Hiroshima é porque estava fora de órbita. Mas, se não é de todos, avião é para todos. E uma coisa que ainda não se falou por temer-se a verdade: produto de consumo no mundo inteiro.

Fort., 03/02/2012.

Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 03/02/2012
Reeditado em 03/02/2012
Código do texto: T3478712
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