Delicioso Caldo de Cana




Entrei, aconcheguei-me no banquinho da Lanchonete da Sirlene e falei:
_ Oi! Como vai? Tudo bem?? Um caldo de cana, por favor!!!
Mais que depressa uma conversa boa foi iniciada e meu caldo de cana foi preparado e trazido a mim com pedacinhos de gelo mergulhando dentro. Ela trouxe-me aquele copão que eu já conheço muito bem e eu tomei o primeiro gole... Fiz então uma constatação maravilhosa:
_Esse caldo está com um saber diferente,... mais gostoso que os de outros dias...
Saboreá-lo trouxe-me doces lembranças, primorosas recordações... Foi como se abrisse um velho baú, e de dentro dele, com a poeira do tempo e os resquícios de uma saudade do que vivi ao extremo de minha felicidade,... uma sensação de voltar ao passado fez-me estar novamente lá em Dona América, na casa da Dona Mercedes, amiga e comadre de minha mãezinha...
Eu, puerilmente olhando moerem a cana, e fazerem brotar dela aquele líquido doce com o gosto da madeira do engenho e cheiro de alegria... Delícia aquela garapa de cana caiana que a gente saboreava ali mesmo, mas sem muito exagero, pra não dar dor de barriga.
O que restava depois de nosso delicioso mergulho na doçura da cana, era levado pra dentro de casa e no fogão de lenha branquinho pintado de barro branco, ser feito aquele café da minha infância, colhido nos cafezais, secados no terreirão, pilados no pilão até não restar uma casquinha inteira, soprado na peneira, torrado no caldeirão, moído na moenda para junto com a garapa no fogo, virar o líquido saboroso tomado com a broa de fubá...
Aquele cheiro de cana caiana, a doçura da cana caiana invadindo a minha alma em fleches de pura emoção, em emanações de um tempo em que tudo era mais simples e radiante. Sou novamente a Nina que corria no terreirão lá da roça, pés descalços, cabelo desgrenhado de cachos soltos ao vento, com a liberdade quase me arrancando do chão nas asas que teimavam em querer alçar voos... Sou a Nina que corria e chorava de medo dos bezerros, que colocava fogo no rabo dos gatos, que brincava de escolinha fazendo giz de carvão, ... Sou a saudade trazida à tona no lago da lembrança como em um Déjà vu...
Essas emanações do passado minha alma absorve naquele copo de caldo de cana que em alguns minutos saboreio ali na lanchonete da Sirlene... e o esposo dela, orgulhoso apenas diz:
_Esse caldo de cana está mesmo muito saboroso, porque a cana eu trouxe lá de Santo Antônio do Muqui... Nenhuma cana é melhor que a colhida lá!!! Quanto ufanismo nesse doce jeito de amar o seu lugar...


Irene Cristina dos Santos Costa - Nina Costa, 06/02 2012
Nina Costa
Enviado por Nina Costa em 06/02/2012
Reeditado em 07/02/2012
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