A ENCICLOPÉDIA  NOSSA VIDA SEXUAL
 


Ele era como um filho de minha mãe e mais um irmãos para meus irmãos, não para mim... Eu não gostava dele como irmão, não o queria como irmão... mas ele me tratava como a irmãzinha caçula.
Quando ele chegava, meu coração quase pulava pela boca, mas por não conseguir sair, se agitava dentro do peito, e eu não podia entender porque,... porque aqueles grandes olhos azuis naquele rosto moreno queimado de sol me faziam tão desconcertada, aquele sorriso de lábios fartos me deixavam tão emocionada e a presença dele me dava tanta felicidade... Não era algo que eu soubesse explicar, apenas sentia...
Quando ele bebia água, café ou suco, eu tomava no mesmo copo, para sentir o gosto dos lábios  dele... Quando aos finais de semana, ia lá pra casa  com suas tralhas, e me pedia pra passar sua roupa para sair com meus irmãos, eu alisava como se o acariciasse dentro delas e escondido cheirava suas camisas...
Ele não tinha nenhuma orientação da mãe, e vendo uns livros que minha irmã comprara _ ENCICLOPÉDIA  NOSSA VIDA SEXUAL _, ele pediu para levar e ler (claro que eu já havia lido os três volumes da enciclopédia), então, colocando em prática o que havia escrito nela, entre alguns poemas românticos de Goethe, ele um dia me trouxe uma flor de graxa vermelha e me deu escondido, ... e eu, escondido, apanhei e a coloquei em um copo dágua e dentro do coração, esse foi o sinal que me fez descobrir que aquilo que eu inocentemente experimentava era o sabor magnífico do meu primeiro amor.
Deitado no sofá da sala entre dormindo e vendo TV, vez em quando ele me olhava com aqueles olhos de céu e mar, e eu sentia aquele azul  como que me envolvesse numa cortina de fogo, e eu fugia daquele olhar por não saber lidar com aquela combustão que só ardia dentro de mim...
Quando ele completou seus dezenove anos, resolveu ir embora para o Rio de Janeiro, tentar a vida lá, e eu fiquei esperando que um dia voltasse...  quando voltou,eu agora com dezoito anos e ele com vinte e dois,  veio sem avisar, e me encontrou na rua e me perguntou de sopetão se eu estava namorando ou paquerando alguém, ao que eu respondi que não. Perguntou ainda se podia ir pedir minha mãe para me namorar...
Depois de quase quatro anos sem dar nenhuma notícia,... eu disse que fizesse o que bem pensasse, dando de ombro. Ele foi embora e em pouco tempo depois, recebi a notícia de que ele estava namorando a filha do patrão, foi quando eu comecei também a namorar aquele que se tornou depois, meu esposo. Neste mesmo ano, no dia 23 de setembro, ele veio e deu uma festa de aniversário para a mãe, sendo  convidada, fui com meu namorado...
Ele, no meio da festa, mesmo me vendo com o namorado do lado, me convidou pra dançar, e falou em meus ouvidos: "Broto, como você está bonita!", me abraçando, eu me afastei e disse que ia embora, esperando que ele dissesse "não vai, meu amor, eu te quero, te amo..." coisa assim; ele só disse que ainda era cedo e eu disse "não" e me fui... Nesse dia eu dei ao meu namorado aquilo que guardava há tanto tempo para ele, rompeu-se o lacre de uma história, um himen, um sonho... e eu que sonhei dar a ele minha pureza virginal, senti doer na alma meu defloramento, me vinguei de mim por amá-lo demais... A ENCICLOPÉDIA NOSSA VIDA SEXUAL não nos  ensinou lidar com nossos sentimentos...
A última vez que nos vimos, nos abraçamos forte como se quiséssemos comprimir o tempo e a distância que haviam crescido entre nós dois, eu senti o tremor e arrepios nos percorrer os corpos, e os corações baterem ambos em um compasso acelerado, e ele, me olhando com aquels olhos de céu e mar, disse: "Broto, você continua muito bonita!", falamo-nos de nossas famílias e nos despedimos mais uma vez...

Irene Cristina dos Santos Costa - Nina Costa, 10/02/2012

 
Nina Costa
Enviado por Nina Costa em 10/02/2012
Reeditado em 11/02/2012
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