Crônica XII - Elvis não morre jamais...

A Mochileira Tupiniquim em:

Elvis não morre jamais...

Ana Esther

Por mais incrível que possa parecer a Mochileira Tupiniquim já era fã do Elvis Presley desde antes de ele falecer e sonhava em vê-lo pessoalmente em algum show. Contudo, em 1977 ele rudemente destruiu o sonho tão lindo ao falecer subitamente. Não tem problema, ela redirecionou seu sonho: agora não morreria sem antes visitar Graceland, a famosa casa do Elvis em Memphis, Tennessee, USA.

Não era um sonho muito fácil de realizar pois viajar para fora do Brasil nos anos 80 constituía-se tarefa hercúlea! Sem falar que não havia cartões de crédito nem e-mails. Ah, sim e o máximo de dinheiro permitido aos turistas era US$500! O fato é que a Mochileira teve a oportunidade inacreditável de ir para os Estados Unidos (causo para outras crônicas...) e, de jeito nenhum ela deixaria de concretizar o sonho de visitar Graceland!

Sediada em Baltimore, Maryland, super longe de Memphis, a Mochileira foi de avião em pleno mês de fevereiro de 1986, abaixo de neve, em busca do sonho de conhecer o lar que abrigara o ídolo Elvis, com sorte tocar em objetos que ele usava, sentir a mesma atmosfera em que ele vivera. Imbuída dessa deliciosa fantasia, a Mochileira chegou em Memphis abaixo de zero e hospedou-se em um típico hotel para turistas classe ‘remediada’ mas em uma rua sem preço... O hotel ficava na rodovia Elvis Presley Boulevard, já começava bem a viagem!

No outro dia, cedo pela manhã, após comer o sanduiche e outras guloseimas trazidas de casa na fiel mochila, lá se tocou a Mochileira a pé para o centro turístico das organizações Elvis Presley. Ali adquiria-se o ingresso para a visitação a Graceland com direito a um passeio pelo avião particular do ídolo, o Lisa Marie (nome da filha dele). Enquanto aguardava a van -impressionante, saía uma lotada a cada 5 minutos- a Mochileira viu filmes curtos sobre o Elvis, admirou os milhares de souvenires à venda e desta forma entrou definitivamente no clima. Seu sonho estava prestes a se realizar.

Finalmente chegou a van que a levaria até Graceland. Cruzaram os portões símbolos da residência e adentraram pela propriedade no enorme terreno coberto de neve. A casa, que um dia fora refúgio íntimo do Elvis agora estava aberta ao público e lá se encontrava a Mochileira Tupiniquim caminhando deslumbrada pelos cômodos que mantinham a decoração original da época em que o Rei do Rock a habitava. Sala de jogos, o estúdio onde até discos long-play de vinil foram gravados, sala de visitas... o quarto do Elvis, mesmo 9 anos após sua morte, era vedado aos visitantes. Os vários guias que acompanhavam o passeio advertiam a todo o momento para cuidarmos ao tocar os objetos e paredes e seguiam contando a história do local, sua relação com o morador famoso e detalhes dos gostos e hábitos do Elvis. Até o último cachorrinho de estimação dele ainda corria pela casa!

Nos jardins... a piscina do Elvis, os estábulos com os cavalos do Elvis, os carros da coleção do Elvis, as plantas do Elvis e... o túmulo do Elvis... entre os túmulos do pai, da mãe e do irmão gêmeo. Havia inúmeros cartões e corações para o Elvis afinal era14 de fevereiro, Valentine’s Day, um equivalente ao Dia dos Namorados no Brasil. E a Mochileira ali! Era muita emoção. E ainda havia mais, a visita ao jato particular do Elvis com a tão cobiçada pia de ouro 24 quilates! E mais, um passeio ao longo do Mississippi River até o local da estátua do Elvis na cidade de Memphis... E o lado trágico... a Mochileira Tupiniquim só tinha uma câmera Kodak Tira-teima* sem flash.

A visita dos sonhos da Mochileira chegava assim ao fim. Restava voltar para o hotel na Elvis Presley Boulevard e dormir. No outro dia, a vida voltaria ao normal, o sonho acabou... Nada disso! No outro dia, energia renovada, a Mochileira Tupiniquim acordou cedo e retornou ao centro turístico para repetir o mesmo passeio por Graceland... afinal, Elvis não morre jamais!

*Item de museu ou de árdua pesquisa na internet!