HISTÓRICO DA ASSOCIAÇÃO DE DEFESA DOS MORADORES DO GANTOIS, FERREIRA SANTOS E ADJACÊNCIAS

A ASSOCIAÇÃO DE DEFESA DOS MORADORES DO GANTOIS, FERREIRA SANTOS E ADJACÊNCIAS, fundada no dia 05 de março de 1952, com foro na Cidade do Salvador e sede própria à rua Ferreira Santos nº 75, no bairro da Federação, registrada no Conselho Nacional de Serviço Social – CNSS, do Ministério do Bem-Estar Social, de acordo com determinação expressa no Artigo Primeiro da Portaria nº 281, de 02 de abril de 1993, publicado no Diário Oficial da União, em 06 de abril de 1993. Considerada de Utilidade Pública por Lei Estadual número 987, de 05 de dezembro de 1957; por Lei Municipal número 4703, de 26 de janeiro de 1993 e registrada no 1º Cartório de Títulos e Documentos. É uma sociedade civil, sem fins lucrativos, destinada a lutar pelos interesses das Comunidades situadas em sua área de abrangência, com tempo indeterminado de duração e número ilimitado de associados.

A cidade do Salvador, inicialmente surgiu de arruamentos que foram se expandindo além das muralhas coloniais que circundavam o seu núcleo inicial, que não passava daquele conhecido trecho compreendido entre a atual Praça Castro Alves e o Pelourinho.

Esses arruamentos foram crescendo e tomando forma de povoados que possuíam, mais ou menos, vida independente, suas próprias freguesias, seus próprios padroeiros e suas próprias festas devocionais. Daí vem o dito que o baiano é um eterno festeiro. Com o crescimento da população, esses povoados foram se interligando e se transformando nos bairros da primeira capital do país.

Oitenta por cento da população da Cidade do Salvador vive em bairros populares ou nas “ocupações”, antigamente chamadas de invasões. Salvador é uma cidade construída em quase sua totalidade pelos seu povo em locais “ocupados”, como um reflexo das constantes crises do país. Essas ocupações foram aos poucos se estendendo para os limites da cidade original, ocupando morros, brejos, baixadas, terrenos pantanosos e locais de difícil acesso, longe da cobiça dos avaros, dos grandes proprietários de terras e daqueles que pretendiam morar e “viver bem”.

Dessa maneira, em total desobediência às leis do solo, com as classes menos favorecidas impondo a sua necessidade de moradia, as ocupações foram se expandindo, dando lugar a numerosos bairros.

Pela quantidade de africanos importados até 1850, pode-se notar como a sociedade escravista se estabilizou e desenvolveu em decorrência da injeção demográfica que vinha de fora.

Em 1883, dos 57000 habitantes da colônia, 25000 eram brancos; 1800 índios e 14000 negros. Para o biênio 1917-1818, as estimativas davam, para um total de 3.817.000 habitantes, a cifra de 1.930.000 escravos, dos quais 202.000 eram pardos e 1.361.000 negros. Havia também, uma população de negros e pardos livres que chegava a 585.000.

Sentindo os maus tratos dos senhores, os escravos que conseguiam fugir se organizavam em quilombos que segundo definição do rei de Portugal, em resposta à consulta do Conselho Ultramarino, datada da 2 de dezembro de 1740, “toda habitação de negros fugidos que passassem de cinco, em parte despovoada, ainda que não tenham ranchos levantados nem se achem pilões neles”.

Mas quilombo, na língua kimbundu, de Angola, é a paragem, pouso para descansar nas viagens pelo interior africano.

Havia, nos idos de 1930, um quilombo na região então deserta do Engenho Velho da Federação. Era formado por alguns casebres de taipa e cobertura de palha de ouricuri. Era composto por escravos da nação jeje, o qual ficou mais tarde conhecido como Terreiro do Bogum, que segundo alguns era um dos mais ricos, mais concorridos e mais belos do país. Ali se observa, na sua maior pureza, o culto nagô dos deuses africanos.

Assim, bem devagar foi se constituindo o bairro do Rio Vermelho de Cima, mais tarde denominado Federação, por causa da estrada que serpenteia cruzando todo o bairro, construída em homenagem à federação dos estados brasileiros por ocasião da transição de império para república.

A nossa comunidade surgiu do povoamento da região conhecida como Rio Vermelho de Baixo, quando famílias pobres, em sua maioria vindas do interior do Estado, se estabeleceram nos terrenos compreendidos entre a rua Vasco da Gama, o Morro da Favela e o trecho conhecido como 2º Arco, hoje Avenida Anita Garibaldi. Essas pessoas viviam da pesca, trabalhos braçais e as mulheres trabalhavam como lavadeiras, empregadas domésticas, faxineiras em casas de pessoas com melhores condições ou como donas-de-casa de baixa renda.

Como a região ficava na periferia da cidade, inicialmente não se constituía um ponto de interesse e cobiça para grandes proprietários de terra, e durante muito tempo se mantinha intacta, com suas matas fechadas, brejos e terrenos alagadiços.

Nos idos de 1950, foi-se verificando um maior fluxo de povoamento no bairro e as pessoas tomando consciência de comunidade, dando início à formação de uma sociedade.

Um lugar cheio de magia

Conhecido por muita gente no exterior, tanto que anualmente milhares de estrangeiros de todos os pontos do planeta aportam na área, o Gantois é hoje símbolo do misticismo, da filosofia, religião eo cultura afro-brasileira, não somente da Bahia mas também do Brasil.

Sua história de resistência da luta do negro é um capítulo à parte nesta terra. É o lugar da vida de Mão Menininha e de toda uma gente carente, que precisa de ajuda para sair da letargia em que se encontra e ter uma vida comunitária melhor.

A magia da sobrevivência

O Gantois é uma célula do microcosmo chamado de Bairro da Federação, em que sua rua principal, uma das mais movimentadas da cidade é a Ferreira Santos, em função de ser acesso a sedes de emissoras de TV e Rádio.

A Federação é um bairro populoso e somente para se ter uma idéia, o Gantois e a Ferreira Santos são responsáveis pela vida de 50 mil moradores, que enfrentam todos os tipos de problemas, que vão desde a necessidade de escolas e serviço médico assistencial adequado, até mesmo “points” de trabalho.

É uma população essencialmente de baixa renda num bairro pobre e muito carente, um bairro com mais de 100 mil habitantes.

A luta do dia-a-dia

Justamente para servir de canalização às esperanças de sua gente é que há 52 anos foi fundada a Associação de Defesa dos Moradores do Gantois, Ferreira Santos e Adjacências, uma entidade sem fins lucrativos e que vem tendo participação cada vez mais crescente nos destinos dos seus moradores.

Suas atividades filantrópicas são abrangentes, além de ter uma participação no conceito de desenvolvimento do trabalho de integração comunitária e notadamente de conscientização político-social de todo o segmento de moradores.

Apesar de sua conceituação, a Associação é uma entidade aberta, apartidária, sem conotação político-partidária. Suas portas abrigam todas as crenças religiosas e ao longo do tempo vem se caracterizando como objeto gestor das melhorias da área, através de um relacionamento considerado positivo com as autoridades municipais e estaduais, independente de sua tendência política. Atuando dentro desses parâmetros, muita coisa vem sendo conseguida, mas é preciso muito trabalho e muito mais empenho para que o local venha a ter um perfil de habitabilidade, conforme padrões da ONU e da OMS.

A Associação tem um número ilimitado de associados e a filiação vem crescendo gradualmente. Ela é aberta à participação de todos e procura atender aos seus interesses gerais, como por exemplo, a luta que se processa desde tempos remotos, para a legalização da posse das terras da família Martins Catarino que ainda domina e até hoje cobra uma taxa dos moradores sob pena de expulsão de suas moradias; a implantação de creches que viriam ajudar às mães que trabalham fora do bairro ou precisam de ajuda na sua labuta diária; mais escolas e realização de obras de infraestrutura.

Dentro do projeto de atuação da Associação, muita coisa foi e vem sendo realizada, como cursos de alfabetização para adultos com grande afluência e resultados satisfatórios, curso de alfabetização para crianças, com os mesmos resultados e atividades correlatas, através de convênios com órgãos federais.

*Texto redigido para o Ministério das Cidades.