Pedras e eu

Pedras, o que são? Matéria morta, fria, sem ação?

Pedras me fascinam.

É a única espécie da Natureza que recolho, levo comigo.

Ajeito-as no ambiente. Não há como não me encantar por elas...

Questiono, por que me atraem? Seria meu lado rude que me faz se aproximar delas? Sei que sou, às vezes, dura, brava, por demais...

Pedras: duras, frias...

Sei também o quanto busco meu lado terno, doce e maleável. É luta e luta incansável. Luta interna, batalho comigo mesma. O que há entre a pedra e mim?

Não coleciono qualquer uma, garimpo-as. Escolho as polidas. E então, percebo. A pedra que há em mim e a pedra que tomo da Natureza, levo para casa, faço caminhos, desenho formas e formas, simétricas e harmoniosas.

E de novo, pergunto-me:

- Apreciá-las seria confirmar meu lado adestrador, aquele que domina?

Que sina, investigar-se tanto. Querer saber de si tanto assim? Saberei um dia? Não sei, sei que vou perseguir quem sou, mesmo sem me achar...

Pedras e eu...

Posso ver nelas meu desejo árduo de me polir, encontrar-me essência! Aquela pedra que apanho: quanta vida já viveu para se chegar ao que chegou. No leito do rio, esfolada, jogada para lá e para cá, vai se limpando. Lá fora, a chuva, o movimento, tudo a faz se tornar diferente... Daqui e dali, transformou-se, perdeu as arestas, arredondou-se.

Sou isto: lanço-me incessantemente à procura da procura. Quebrar arestas, perder a rudeza. Encontrar-me inteira em Deus e com Ele. Pedras e eu: tudo faz sentido. Somos rede em rede, é só buscar que a semelhança aparece.

Luz Airam
Enviado por Luz Airam em 16/02/2012
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