DÚVIDA

Aprendi em certa época que as fábulas eram chamadas de “estórias” e que “história” com “H” era um acontecimento real. Permaneci utilizando as duas palavras para distinguir os fatos fictícios (estória) dos fatos verídicos (histórias) por muito tempo. No ano de 2005 quando escrevi um livro de crônicas intitulado “Histórias de Marilu”, fui vítima de uma grande dúvida. É certo intitular a obra de “História de Marilu” ou “Estória de Marilu”?

Fiz uma pesquisa na época e cheguei a conclusão que o correto seria usar “História” porque este é um vocábulo mais abrangente podendo se referir aos dois gêneros, o real e o imaginário. Enquanto que o termo “estória” foi aceito apenas por alguns escritores durante certa época ao se referir a algo simulado. No dicionário Aurélio este vocábulo era encontrado para definir fatos fictícios. Com o falecimento de seu autor, Aurélio Buarque de Holanda, em 28.02.1989, foi subtraído do dicionário a palavra “estória”.

Já no dicionário de Caldas Aulete o vocábulo “estória” existe ainda hoje. E diz assim: (es.tó.ri:a) ,sf.1. Bras. Ver história (3) [A palavra foi proposta para designar narrativa de ficção, mas a forma preferencial é história.][F.: Do ing. story.] “estória” não existe na língua portuguesa.

Informa o melhor dicionário brasileiro o Houaiss que: estória foi registrada no século 13 e história, no 14. O escritor e crítico lieterário Sérgio Rodrigues acrescenta que como uma palavra era sinônimo perfeito da segunda, a primeira caiu em desuso, sobrevivendo hoje como um regionalismo brasileiro e que significa “narrativa de cunho popular e tradicional”. Segundo o referido jornalista, parece ao mesmo tempo vaga e restritiva esta consideração.

Ao observar a utilização da palavra “estória” por intelectuais continuei minhas pesquisas e encontrei na internet em várias fontes que a palavra “estória” não existe na língua portuguesa, confirmando o que foi dito no Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa, também conhecido como Dicionário Caldas Aulete. Em inglês sim, existe story (fato não real) e history (fato real). Houve uma tentativa daqueles que são amantes do inglês (anglicismo)*¹ incorporar o vocábulo na nossa língua portuguesa, mas atualmente está em desuso.

Interessante que a priori a Marilú de minhas crônicas que depois foi compilada no livro “História de Marilú” recebia na grafia de seu nome acento no “u”. No portal que publico minhas crônicas (www.recantodasletras.com.br) permite comentários. Entre os vários que recebi estava a seguinte crítica. Professora as palavras oxítonas que recebem acento são as terminadas em a, e, o, as, es, os, em e ens. Portanto, Marilu não tem acento. Respondi o e-mail explicando que se tratava de nome próprio e que me serviu de inspiração para o título uma pessoa que tem em seu registro de cartório, certidão de nascimento, o nome grafado com acento. Erro de grafia do tabelião que registrou. Mas, em homenagem ao leitor que fez uma advertência procedente, ao publicar o livro retirei o acento e o título ficou “Histórias de Marilu”.

O freguês sempre tem razão. Todas as dúvidas eliminadas, pronto.

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*¹admiração profunda a tudo quanto é inglês, palavra e expressão peculiar a língua inglesa/ dicionário Aurélio.

Maria Dilma Ponte de Brito
Enviado por Maria Dilma Ponte de Brito em 19/02/2012
Reeditado em 18/04/2020
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