A Espera de um milagre

Quanto tempo mesmo faz?

Alguns bons anos... Eu já estava com ele há longos e perfeitos anos (até então perfeitos). Tudo era completo, ou pelo menos eu achava.

Cheiro, abraço, beijos, sorrisos, sexo... Até que em uma viajem de férias, onde tínhamos marcados há três meses, ele veio-me com uma história nada perfeita: “é sempre desconcertante rever um grande amor”; “pensei que tinha esquecido minha ex-mulher”; “percebi que preciso de um tempo para que eu... É melhor acabar por aqui”.

Como assim acabar? Como assim rever um grande amor, ex-mulher, passado? Como assim gente?!

É claro que nossa relação não estava mais aquelas coisas e eu já tinha observado, afinal era esse o ponto principal de nossa viajem de férias, mas ele não tinha o direito de me dar um banho de água fria quando a água da hidromassagem já estava quentinha esperando por nós dois.

Fazer o que não é?!

Cancelamos nosso fim de semana e voltamos para nossa cidade. No aeroporto onde ele se despediu de mim, disse-o apenas que ESPERARIA POR ELE O TEMPO QUE FOSSE NECESSÁRIO, o amava e que ele teria todo o tempo do mundo pra viver a vida dele.

Ele me abraçou, nem se quer um beijo me deu (talvez o coitado estivesse cansado não é?!), disse-me OBRIGADO POR TUDO e virou as costas.

Gente eu o amava. Doeu muito. Ele deixou-me com o coração apertado, mas sou uma mulher forte, disse pra mim mesma “esperarei por ti a ETERNIDADE”.

Então fui viver esperando...

Vivia esperando ele entrar no chat pra conversar comigo, vivia esperando meu telefone tocar pra ouvir a voz dele. Passava o dia inteiro no trabalho ouvindo nossas músicas, vivia gastando meus créditos passando mensagens sem sucesso. Vivia ligando interurbano lá da sala do RH, pra ver se me atendia... Vivia esperando e nada.

Foi ai que pensei: “ele me pediu um tempo, então vou dar a ele”.

Comecei a mudar as coisas. Me matriculei em uma escola de artes marciais para adquirir mais paciência para ‘esperar’. Tornei-me tranquila, uma senhora cheia de paciência, mas continuei a esperar...

Então resolvi fazer faculdade de turismo onde o ramo que escolhi me possibilitaria conhecer novos horizontes. Conheci lugares, vendi passagens, administrei empresas de marketing, dei palestras impactantes, viajei a Roma, conheci Berlim, Barcelona, Milão... Nessa época já falava francês, inglês, espanhol e mandarim. Tive um ‘affair’ até com um Deus Grego alto, forte de olhos azuis, mas mesmo assim continuava a esperar...

Minha ascendência em sagitário é mais forte que meu signo taurino. Então continuei a bater de frente com os fatos... Comprei meu apartamento, meu carro, tinha uma casa na praia e uma no campo. Namorei, quase casei, tive uma filha, a criei sozinha. Todo ano viajava com ela para a Flórida, a amei infinitamente...

Tornei-me uma 'Dama' da sociedade, mas eu continuava a esperar... Foi ai que um dia em plena visita ao jardim botânico percebi algo em comum entre mim e as flores.

Elas estavam ali, vivendo estações, ciclos, períodos de suas vidas apenas esperando um determinado momento em que um beija-flor chegaria para beijá-las. Ficou claro que minha relação com as flores era extremamente comum e igual. E nós duas estávamos enganadas, pois nós não estávamos ESPERANDO ele. Nós estávamos apenas com ESPERANÇA de um dia ele chegar.

Existe certa diferença entre ter ESPERANÇA e VIVER ESPERANDO, eu, quer dizer, NÓS (eu e as flores) vivemos todos os ciclos de nossas vidas, tudo o que tínhamos pra viver bem, felizes, rindo, procriando, nos divertindo, conhecendo e amando... Percebi que nunca dependi daquele INFELIZ pra nada do que fiz (e fiz tudo o que tinha de fazer MUITO BEM FEITO).

Eu tive certeza de que quem espera é relógio e não tenho desejo nenhum que aquele filho de uma PURA MULHER BRASILEIRA tenha sinônimo de ESPERANÇA em minha vida, pois até onde eu sei “a esperança é a última que morre”.