Olhos Azuis

Era o primeiro dia na faculdade de minha última filha a ingressar no ensino superior, todas as outras três já haviam formado e em todos esses anos sempre tive o prazer de levá-las e buscá-las após o período de aulas. Acho bastante enriquecedor observar essas jovens mentes a procura de um novo mundo chamado conhecimento e isso é especialmente visível no primeiro dia de aula. É uma atmosfera que me encanta e lembra-me dos meus próprios tempos de universitário.

Mas desta vez foi diferente, vislumbrei algo que me lembrou uma cena muito antiga, há tempos perdida em minhas memórias, lembrança tão bonita que me enchi de lagrimas como uma criança perto de seu esperado presente.

Assim que deixei Ana na porta da instituição pude notar entre o turbilhão de estudantes que procuravam seus nomes nas portas das salas, um par de certos olhos azuis que me eram bastante familiares, como num passe de mágica, fui transportado para outra época da minha vida, época de tristeza e de desilusão, época em que com um sopro de esperança um pessoa mudou minha vida.

Belos cabelos negros ela possuía, foi paixão a primeira vista, meu primeiro amor, não podia resistir a ela, pensava todos os dias e todas as noites na beleza de seus cabelos negros. Ela, por decisão do destino não sentia por mim a mesma paixão, namorava um atleta qualquer da equipe de remo. Não precisa nem dizer que meu coração se partiu em mil pedaços.

Sem poder tela, minha vida já não fazia mais sentido, jurava eu no alto de meus dezessete anos! Andava pelos cantos, lamentando, um verdadeiro moribundo, o suicídio era uma opção, lembrando disso hoje acho muita graça, como fui inocente (quem não foi?), não via a vida que me esperava, deixei de captar as cores do mundo para mergulhar na escuridão daqueles cabelos.

Até que numa dessas cinzentas tardes de fossa eis que me aparece, de forma indescritível, um par de olhos azuis sorrindo pra mim. E eu sorri de volta para eles, nem me lembrava mais como se fazia isso, "sorrir". No mesmo instante tudo mudou, as cores voltaram e com elas a alegria da vida, os cabelos negros viraram parte de um passado que eu queria deixar para trás, um simples gesto devolveu minha juventude e com ela toda a beleza das mulheres de todas as cores, formas e encantos.

Casei-me com uma delas e como vocês já sabem, tive quatro lindas e adoráveis filhas. Minha vida de casado foi muito feliz tenho o orgulho de dizer, com minha esposa e nossas filhas passei a melhor vida que pude sonhar, os olhos azuis daquela longínqua tarde ficaram guardados como o símbolo da virada que me proporcionou tudo que eu tenho e prezo, sou muito grato a eles e a sua dona.

Da mesma forma que apareceram a tantos anos voltaram a me dar o prazer de sua doçura naquele dia, na porta da faculdade. Foi como um flashback, o mesmo brilho, o mesmo sorriso angelical correspondido por mim de forma instantânea, a mesma euforia renovando minhas forças. Foi numa fração de segundos do tamanho de uma eternidade até que um rapaz apareceu e os olhos fitando-o se fecharam, não senti inveja, muito pelo contrário, senti admiração pelo rapaz que com certeza sabia do tesouro que possuía em suas mãos.

Bem, os olhos e a garota, nunca mais os vi, imaginei que talvez pudesse ser uma filha ou neta da heroína de minha juventude, não sei. Prefiro pensar que se tratavam da mesma pessoa, do mesmo ser, daqueles, olhos azuis.

Caio Santos F
Enviado por Caio Santos F em 22/02/2012
Reeditado em 22/02/2012
Código do texto: T3512915