ESPIRITO DE COLETIVIDADE E O CAPITALISMO

Quando abrimos as paginas dos jornais e nos deparamos com as noticias, somos tomados pela força das palavras estampadas em letras garrafais que escancaram escândalos, assassinatos, desvios de dinheiro publico e toda sorte de acontecimentos que tem como intenção desmontar qualquer resíduo de uma força coletiva que possa se remeter a alguma ruptura dentro da sociedade vigente.

Nesse processo de convencimento a mídia é um instrumento de suma importância, ela é usada pelo sistema para minar qualquer vestígio de formação da consciência de classe, com o intuito de convencer os indivíduos de que nenhuma identidade coletiva é necessária para que suas metas e projetos possam ser alcançados; quando na verdade todos nós sabemos que uma andorinha só não faz verão.

São usados como instrumentos de persuasão: as propagandas, as chamadas de programas populares, os enredos das novelas. E todos esses elementos têm como finalidade nos convencer de que não precisamos nos associar a nada e nem a ninguém para chegarmos a algum lugar, e que o contexto histórico é apenas um detalhe sem nenhuma relevância.

A rotina nossa de cada dia é uma parceira fiel da individualidade, ela nos coloca de forma muito direta ao encontro dos nossos problemas, dificuldades e a urgência que temos de resolvê-los.

Os referenciais cotidianos, temporais e espaciais estão contidos nas artimanhas do capital que nos agride todos os dias com o seu discurso pós–moderno onde o “eu” é predominante.

É verdade que em muitos instantes nos tornamos solidários, principalmente quando levados pela emoção, mais na maioria das vezes o nosso sentido de sobrevivência nos remete ao erro de acharmos conveniente não abrir mão da nossa particularidade em prol de algo que possa vim a ser útil a comunidade que pertencemos.

Nesse sentido de coletividade me deparo com um exemplo vindo do outro lado do planeta, mas precisamente no Japão. Ao ler uma crônica de Marta Medeiros (Revista O Globo, 31/07/2011, pág.22) tomo conhecimento de uma atitude tomada por alguns aposentados japoneses, cerca de duzentas pessoas, engenheiros na sua maioria, que se ofereceram para trabalhar na usina nuclear de Fukushima, que foi seriamente afetada pelo terremoto que atingiu aquele país em março de 2011.

A idéia central desse grupo de aposentados e porque não dizer de toda sociedade japonesa, é a continuidade da identidade que foi construída ao longo dos séculos.

Todos sabem o alto risco de contaminação que fica-se exposto ao se executar um trabalho dentro dessa usina. Pensando nisso esses aposentados se ofereceram para trabalhar no lugar dos jovens; argumentando junto ao governo Japonês que em sua maioria os “idosos viveriam mais ou menos uns quinze anos e que o câncer causado pela radiação levaria de vinte a trinta anos para se manifestar, logo, por serem mais velhos correriam menos riscos de desenvolver a doença”.

Ao mesmo tempo eles querem dar sua ultima contribuição à sociedade, estão pensando em liberar os jovens desse trabalho, já que isso significaria a diminuição da vida produtiva dos mesmos.

O altruísmo do grupo, que se intitulou Skilled Veterans Corps,(Vetera- nos do corpo) começou com o engenheiro Yasuteru Yamada, que ao assistir ao noticiário, decidiu mobilizar idosos como ele. Em entrevista à imprensa, comentou: "Eu tenho 72 anos e posso viver mais 13 ou 15 anos. Mesmo que seja exposto à radiação, o câncer vai demorar 20 ou 30 anos para se desenvolver". Para ele, a atitude não é corajosa, mas lógica.

Essa atitude é derivada de toda uma cultura que apesar da força do capitalismo e sua individualidade não destruiu a força coletiva de um povo.

Esse episodio nos mostra de forma clara e objetiva que a formação de um identidade coletiva deriva da coesão em torno de uma causa, seja ela política, social emotiva, não importa, o fato é que o sentimento de identidade pode nos levar a obter resultados positivos numa velocidade e consistência muito maior do que é feito em termos individuais..

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