Terra.


É muito comum  eu sentir certas “necessidades” estranhas,parece coisa de  gente doida, ou no mínimo de pessoa um pouco(?) atrapalhada “das idéias”. Fico completamente abobada quando sinto atração por alguma coisa.
Outro dia chovia muito, fiquei na varanda da minha casa olhando a chuva.Passei um bom tempo vendo as gotas que caiam do telhado baterem na terra ,fazendo furinhos e espirrando água à sua volta ,elas me lembram coroas de reis ou rainhas...
 Com a mente totalmente vazia, apenas observando a chuva cair e  desaparecer na terra depois de alguns segundos,molhar a grama, as plantas,tornar pesados os galhos das árvores,ela escorrer fazendo uma cortina d’água...
Sou capaz de ficar horas vendo esse móbile lindo que a natureza cria.
Senti um  impulsos brusco, o de conhecer a terra,mas a terra de verdade,senti-la sob meus pés, em minhas mãos,usufruir  de seu perfume,sua  textura e descobrir um pouco da vida escondida nela.
Quando a chuva pesada passou e restou apenas uma leve garoa, bem fininha, como dizia minha mãe, “chuva de molhar bobo”, por que parece que ela não nos molha, mas em alguns minutos  a gente está encharcada,não resisti.
Mesmo com o que restava da chuva, tirei os sapatos e pisei com vontade no canteiro de terra revolta ,me abaixei e apanhei com cuidado um punhado daquela “criatura”,senti seu cheiro e textura inconfundíveis.
Que sensação gostosa!
Afundei os pés na terra fofa e molhada, ela retribuiu, subindo tomou conta dos vãos de meus  dedos até  cobrir o peito do pé!
 Fiquei deslumbrada por estar literalmente  plantada naquele chão!
Olhava para minhas mãos e pés e via sua beleza única, ela é linda.
Me senti no paraíso.Permaneci muito tempo imóvel, talvez esperando nascerem raízes,  galhos cheios de folhas, flores ou frutos em mim...
 Só pode!Não conseguia me mover, estava “encantada”.
Não queria mais sair dali e perder aquela sensação indescritível da chuva no meu corpo, da terra nas mãos e sob meus pés, foi difícil deixar aquele momento tão intenso de perfeita integração.
Fiquei imaginando... Como sempre, imagino..
Será que é isso que a terra sente quando chove?
Se for, agora entendo por que  é tão generosa  ao alimentar o homem, e ainda lhe servir de última morada.Simplesmente por que  ela é  feliz!
Depois de algum tempo, que nem sei precisar quanto, voltei para a varanda, deitei num banco, me cobri com uma toalha.
Não lavei os pés, nem as mãos, pois  com o que restava de “minha mãe-terra” grudada neles  eu sentia uma plenitude nunca antes experimentada, entendi por fim que eu faço parte dela e ela de mim.
Adormeci tranquilamente me sentindo como  uma criança que fez uma inesperada e feliz  descoberta; a certeza de que é realmente parte integrante da natureza.
 
M.H.P.M.