Um bom lugar pra ler um livro

Dia desses, tive o prazer de ler algo em um blog sobre o que talvez seja moda no mundo das tatuagens (com o qual não tenho grande intimidade). São as chamadas tatuagens literárias, que, como o nome indica, leva o tatuado a gravar na pele – ao invés de postar no Facebook – uma passagem de um livro, uma frase, um poema ou até um desenho que se relacione com a obra. Bacana demais.

Gostei tanto do que vi, que fiquei imaginando quais de minhas passagens preferidas dos livros lidos até aqui ficariam bem estampadas no cóccix, no antebraço ou na nuca, a tríade sensual das tatuagens das mulheres.

Pois imaginem os amigos, na ocasião do primeiro encontro íntimo, deparar com um conto inteiro de Ernest Hemingway reproduzido nas costas da futura amada. Não eleva o patamar da coisa?

Talvez eu viesse a pedir em casamento a mulher que tivesse tatuado em seu corpo qualquer trecho de As Vinhas da Ira ou Pergunte ao Pó, meus livros preferidos. Talvez ela mesma me pedisse em casamento se eu identificasse de que capítulo ela retirou a passagem.

Mas e se, ao invés de alguns parágrafos de prosa, a menina mostrasse com quem se está lidando exibindo em suas costas a letra de Like a Rolling Stone, do Bob Dylan, para que se desbravasse até o “you got no secrets to conceal” que encerra a última estrofe? Não me ocorre forma melhor de começar um novo amor.

Também não desprezaria jamais a opção feminina por belos versos de Vinicius de Moraes, como estes que sempre me vem à mente:

De manhã escureço De dia tardo De tarde anoiteço De noite ardo.

Gosto de tribais, aprecio com moderação as estrelinhas, borboletas e fadinhas e também me agrada a fauna brasileira bem desenhada. Mas creio que nada disso possa excitar um bom leitor tanto quanto ver a literatura escrita na pele. Palpável como um papel.

Andrei Andrade
Enviado por Andrei Andrade em 24/02/2012
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